terça-feira, 24 de março de 2009

Especulação e choradeira


Vivo no primeiro de um típico edifício milanês de 5 andares, construído nos primeiros anos de 1900. Nada o distingue de outros edifícios em torno, quase todos precedentes ou deste mesmo período. E como ocorre com toda a área urbana de certo peso histórico, novas edificações são raras, senão por razões extremas, como abandono de proprietários, perigo de dano a terceiros e outras causas naturais.

O resultado disso é que a a área urbana milanesa sofre enorme déficit de imóveis para quem necessita viver próximo ao centro financeiro e comercial, criando assim, um próspero mercado de especulações. Na falta de novas construções, especula-se sobre adaptações, ao limite da legalização. Seja para alugar ou para comprar.

Há pouco mais de dois anos, uma construtora adquiriu um imóvel logo abaixo do meu apartamento, no andar térreo. Diante da incredulidade dos moradores, decidiu-se que daquele pequeno espaço "extrairia" quatro novos apartamentos. A equação nos soava como quem colocaria a população paulistana dentro de Campinas. Além disso, o andar térreo em edifícios como este quase nunca é ocupado para uso residencial.

Entre fiscalização, desvios de burocracias e constantes paralizações da obra, passei um ano à beira de histeria, suportando rumores de britadeiras e marteladas no andar inferior. Confesso, a obra atiçava a minha curiosidade, sobre quem compraria um imóvel cujas janelas dariam diretamente à calçada.

Um ano depois do estressante rumor, conhecí finalmente o que a construtora chamava pretensamente de lofts. Cada apartamento é um ambiente único, que mede pouco mais de 3 metros de largura por 4 de comprimento, com um banheiro cego num dos ângulos. Para aproveitar o pé-direito de 3,5 metros de altura, criou-se um micromezanino onde cabe apenas uma cama de casal, e nada mais. No total de 24 metros quadrados, está incluída a metragem do mezanino, é óbvio. O preço? Exatos 280 mil euros, sem possibilidade de um desconto.

Até agora, apenas um comprador veio se estabelecer no imóvel, às vésperas da crise financeira. Um morador com seus 40 anos, com ares de profissional bem sucedido, como era previsível. Nenhum trabalhador médio poderia se permitir a este preço, sem falar do exíguo espaço. Com o agravamento da crise, outras 3 unidades continuam mofando sem um comprador, mas seus preços não baixaram de uma vírgula sequer, desde a inauguração.

E não é que vejo construtoras como estas nos debates de TV, chorando as pitangas por uma ajuda do governo e culpando a crise pela paralização de vendas no setor?

3 comentários:

KS Nei disse...

Engraçado você dizer dos bolivianos do Bom retiro, na mão dos coreanos, pois sempre comparo essa situação com a de alguns brasileiros no Japão em regiões mais afastadas dos núcleos abrasileirados.
Tem gente vivendo MUITO mal por aqui.
Ei, estive em Milano por 3 dias, há muitos anos. Amei.
Besos!

Catarina disse...

Por aqui há uma versão da mesma situação.
O bairro nobre, mas decadente do Morumbi, onde, por força da lei não podem ser construidos edifícios altos, as construtoras compram grandes casas, inviáveis para os tempos atuais, destroem, e no lugar levantam condomínios com cinco seis casas, todas com quatro suites, mas todas com metragens para anões!

Beijocas
PAola

Anônimo disse...

Luma,como sabe Caraguá é uma cidade turística,o povo ganha muito mal e são eles que estão sofrendo com a vinda do Gasoduto para cá,uma firma prestadora de serviços da Petróbrás, a Consórcio Caraguá, estão alugando casas a preço de ouro, com atravessadores que geralmente ganham por fora quase a metade do aluguel.Deixando ao desespero as pessoas que procuram casas para alugar, com o valor totalmente fora do mercado.bjusssssss