quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Boas Festas!



A todos aqueles que eventualmente passar por aqui, um bom Natal e um ano novo melhor que este que termina.

Boas festas a todos!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Espertos e expertos de vinho


Gosto de queijos. Gosto muitíssimo de queijos. Mas gosto deles apenas porque gosto de comê-los. E não para entediar os amigos com conversas sobre vida, morte e milagre de fungos que não passam de leite apodrecido. Tudo bem, há podres e podres no critério pessoal deste prazer. Mas após degustados, o prazer morre comigo, e por alguma falha no hipocampo da memória, seus nomes complicados em francês também.

Conversando certa vez com um velho comerciante de queijos - naturalmente um grande experto no assunto - , perguntei-lhe qual dos tipos previamente escolhidos por mim fosse o melhor. "O melhor é aquele que mais agrada ao seu paladar, não importa se popular ou raro", respondeu, com sorriso. Justo. Cada juízo é sempre subjetivo, condicionado pela combinação entre os sentidos e o cérebro, o órgão que realmente vê, prova, cheira e toca para formar o juízo pessoal.

Lí tempos atrás em algum lugar que Robert Parker, aquele implacável crítico norte-americano de vinhos mais influente do mundo - o carrasco que estabelece a vida ou a morte das vinícolas internacionais - tivera os olhos vendados por um desafio. O de provar e avaliar no escuro diversas garrafas e safras. O resultado foi penoso. Avaliou como 'melhor' o mesmo vinho que antes, de olhos abertos, classificara como 'pior'. E confundiu ainda um Bordeaux de um vinho ordinário, entre outras gafes.

Isso vale uma desforra para os comuns mortais. Com todo respeito aos sommeliers e degustadores de vinho, faço parte daquela leva de consumidores que nunca alcançou percepções elevadas e tão precisas - mesmo num vinho mais celebrado e celebrizado - naquele suposto retrogosto de nozes, amoras, flores ou madeira, que só as autoridades enológicas dizem ter alcançado. Percepção é tão mutável quanto o humor e o tempo. Ou não?

E há vaidades que vão além. Nos olham com um certo desdém e um brilho quase divertido de pena e humilhação apenas porque a nossa reles sensibilidade gustativa, onde já se viu, não identificou a "sinfonia dos ventos que descem as montanhas de Vosges e lambem as águas do Reno no retrogosto de amoras desse Pinot Noir". Nas resenhas enológicas que circulam por aí não faltam literaturas deste gênero.

Bem mais enfadonho é aquele que numa roda quer desfiar prova de sofisticação disparando jargões enquanto inicia uma lenta e presunçosa ritualização para a simples abertura da garrafa. Cheira a rolha, enrosca a taça entre os dedos e a faz girar fixando o olhar no infinito, como se a nossa presença importunasse seus egos por estar no mesmo ambiente. Naquele momento, é certo que a falsa autoridade nos abandona por outra dimensão. Quem sabe, numa Val de Loire celestial cercado apenas por membros seletos de sua confraria, esquecendo-se que amanhã é segunda-feira e tem um cheque alto que vai cair, enquanto a esposa grita lá da cozinha para que ele desça logo com o saco de lixo.

Respeito os verdadeiros conhecedores de vinho, os que sabem distinguir a exposição das vinhas, do seu sabor e dos frutos. Um técnico, sem a pretensão de um literato. E quanto mais o pseudo-experto se perde em literatura enológico-filosófica, mais me convenço de que o comerciante de queijos tenha razão. O que eu quero é apenas o meu copo cheio do que me agrada, e me basta assim.

Nestas festas, haverá quem abra uma Sidra Cereser e outros poucos, um Perrier-Jouet. Os sabores são fugazes e seus preços são meros condicionamentos de mercado. Festa boa é aquela que nos faz feliz. Até mesmo com uma tubaína.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Velhinhas 'camisas negras'


Há pouco mais de um ano um casal de romenos veio morar logo abaixo do meu apartamento, no andar térreo. Pela sua discrição e silêncio, fiquei por uns três meses sem sabê-lo da existência destes novos moradores. Para conter as despesas condominiais, a administração do prédio decidira alugar para o casal o imóvel destinado para a habitação do porteiro, do qual este havia renunciado.

O fato havia suscitado curiosidade em mim. Ainda que a grande maioria da sociedade italiana não sucumba ao bombardamento diário de propaganda e incitação a delatar suspeita de clandestinos ao seu redor, é inegável que a desconfiança com o desconhecido se respire no ar. Sobretudo quando este decide morar ao lado.

No meu próprio prédio já ocorreu fatos de denúncias contra o 'suspeito'. A polêmica lei que multa e instiga a delação contra proprietários que alugam seus imóveis a clandestinos ou a estrangeiros suspeitos, havia acabado de entrar em vigor naqueles dias.

Entusiasmada com a nova ordem do governo, uma senhora idosa, declaradamente eleitora da liga Nord e autoproclamada 'guardiã' do nosso prédio, entrou prontamente em ação. Certa de que um chinês fosse absolutamente sinônimo de clandestino, convenceu a polícia a efetuar uma 'batida' - sabe-se lá com que persuasão, já que a Polícia não se desloca tão facilmente - no apartamento recém-alugado por duas jovens chinesas, na outra ala do prédio. Para a sua surpresa, deu-se com um furo na água. Tratava-se de duas universitárias com vistos regulares de estudantes, frequentadoras de uma universidade local.

Após a nova ordem emitida pelo governo Berlusconi - sempre através da Liga Nord, o seu braço direito - um outro fato envolveu um distinto e discreto profissional de meia idade e cidadão italiano, antigo morador do prédio. A denúncia partiu de uma 'premissa' formulada por outra moradora aposentada. A suposta namorada deste cidadão era uma travestí brasileira; logo, ele só poderia ser seu protetor.

Desconheço a consequência que isso tenha gerado entre os envolvidos, mas certamente a idade das delatoras as poupou de uma possível causa terminada em tribunal. O resto dos habitantes apenas sorrí, com um misto de desdém e condescendência pelas suas idades, ainda que reconheçam os danos que elas já provocaram a inocentes.

Nos meses sucessivos aos falsos 'alarmes', não ví mais a brasileira em companhia do namorado italiano. Talvez gerado pelo mal-estar, outras duas universitárias chinesas também deixaram o imóvel logo em seguida, pois nunca mais as ví.

Surpresa com a tolerância das delatoras com o casal de romenos - um dos mais visados na caça às bruxas junto aos albaneses, por responder por maior número de criminalidade no país - , só descobrí a razão quando troquei algumas palavras com a esposa do casal. Seu marido trabalha na pequena empresa de construção e manutenção que presta serviços ao nosso prédio. A locação do imóvel só foi possível porque o seu patrão assinou vários documentos de garantia pelo romeno, de cuja mão de obra lhe é indispensável na empresa.

A cada novo caso de crimes envolvendo um romeno nas páginas de jornais noto maior discrição do casal abaixo do meu apartamento. Vive como fantasma num silêncio absoluto, como se temesse os vivos. Os vivos de camisas negras.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Caquis de Natal


Faz frio nestas manhãs em que tenho saído muito cedo de casa. Algo em torno de 2 a 3 graus, sob um vento gélido dos Alpes que penetram até os ossos.

Caminhando pelas ruas rumo ao compromisso de trabalho, desejo apenas chegar o mais rápido ao conforto do calor de ambientes fechados. Mas como não perder dois minutos diante de uma beleza como esta, perdida na pressa urbana?

Os caquis, quem diria, no jardim de um edifício na região central da cidade. Não havia sequer uma folha que resistisse no alto, senão esses frutos mostrando a cor no seu máximo esplendor. Roubar um deles, apenas um direto da árvore já teria me bastado para ter o dia um pouco mais feliz.

Está eleita a mais bela árvore de Natal da cidade nestes tempos tão cinzentos de humor.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Ao Papai Noel Silvio




Querido Papi Noel Berlusconi,

Sabe, já faz um bocadinho de tempo que não sou mais tão lolita criança para participar de suas festinhas privadas, se bem que eu queria um colarzinho de diamantes brinquedo no Natal também. Sabe, como aquele que o senhor deu escondido àquela criança mocinha, a Noemi? Mesmo assim, eu lhe peço encarecidamente que leia esta cartinha e me reserve um minutinho de atenção.

O Natal está às portas. Se me consente, prefiro lhe chamar de Papi Noel, por tanta benevolência com meus amiguinhos italianos nos últimos anos e, mais ainda, com os esfomeados imigrantes que vivem no seu país. Seu altruísmo com os oprimidos não há limite, e o senhor mesmo repete a propaganda isso na tevê, todos os dias.


Mais generoso ainda é com a minoria mafiosa invisível, os empresários sem-tetos, os parentes banqueiros necessitados e com o próprio patrimônio empresarial do povo. São tempos duros para eles, eu sei... Por isso é que o senhor vai priorizar esses meninos com bons presentes, e se sobrar um tempinho, vai dar um alô ao resto da criançada desempregada em rede nacional mesmo. Qual criança não fica feliz apenas com um sorriso como seu na TV?


Mas...sabe aquele seu ajudante que se senta à direita no Parlamento aí na fábrica de brinquedos, o neofascista o Seu Bossi? Ele estranha um tiquinho com crianças que não sabem rezar o Pai Nosso, não é mesmo? Sabe, aqueles barbudinhos que usam turbantes ou caftans e só comem kebabs? Parece que neste Natal, ele quer ser bem generoso e presentear os meninos com uma alegre excursão à Meca, sem retorno. Disse que vai fazer o mesmo com os meninos tropicais que se vestem de meninas e só brincam à noite; mas também com os traquinas que vendem bolsas Shanel nas ruas. Seu Bossi diz que o Natal tem que ser "White Christmas", e não "Black Christmas" ou "Brown Christmas". Não entendí direito...

Pois então, neste Natal, eu lhe peço um presentinho a todos os desamparados da minha escolinha. Em especial, aos meus amiguinhos italianos, digamos, para os 49% da escola. Tá certo, eles são um pouco rebeldes sem causa e não votaram no senhor, mas eles são bem mais estudiosos e não ficam colados na sua tevê como o resto da turma, eu lhe garanto.

Peço também uma lembrancinha aos meninos da Magistratura, que fazem a lição de casa direitinho, mas vivem apanhando da diretoria e acusados de mentirosos. Lembre-se Papi, que alguns destes meninos de beca já morreram debaixo de bombas brincadeiras armadas por seus afilhados moleques de rua lá do sul.

O presente? Nada de caro, bem baratinho mesmo, porque sei que o seu orçamento é bem apertado com essa crise toda. O senhor é que fez bem, em ter estocado um monte de brinquedos para sempre, lá nas suas fábricas Finivest e Mediaset, e até nas filiais de algumas ilhas partes do mundo. Os meninos aqui carecem apenas de algumas coisinhas simples, tipo leis. Leizinhas contra a corrupção da diretoria da escola, contra a imunidade dos protegidos do professor e contra alguns trombadinhas de rua que vivem ameaçando os meninos de beca durante as aulas de pesquisa.

Tá vendo que não vai gastar muito? Olha, um último pedido. Não deixe aqueles meninos "pianistas" da sua fábrica votarem o contrário, hein?

Beijos, Papi Noel, vou esperar sentada ansiosamente pela sua promessa.



Muito obrigada.


terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Tempos que correm


Mesmo sob um insistente chuvisco, fui ontem esticar as pernas atrás de uma livraria do centro, localizada nesta rua, da foto acima.

Estamos em plena ponte de feriados. Hoje, terça-feira, festeja-se a Imaculada Conceição. Ontem, foi a vez apenas de Milão, feriado de padroeiro da cidade, Santo Ambrósio. Admirado por milaneses religiosos e laicos pela sua erudição, Aurelio Ambrogio viveu os anos entre 340 a 390, sob o último imperador romano Teodósio. Foi escritor, advogado, estudioso da Igreja - a quem Santo Agostinho deve a sua conversão - e bispo de Milão.

Aspecto religioso à parte, a data de Santo Ambrósio é estratégica para os comerciantes e artesãos, às vésperas de Natal. Uma das ruas centrais é tomada por bancas de comidas, artesanatos e artigos para presentes, numa ebulição quase claustrofóbica. Já a noite, é reservada para personalidades, intelectuais e Vips, que se aglomeram para a abertura de temporada de concertos e óperas do Teatro Scala.

Para acabar com a alegria do feriado, me deparei com um quiosque montado pela Liga Nord, o partido de extrema-direita do polêmico líder Umberto Bossi, um dos braços fortes do atual governo Berlusconi. Os partidários do neofascismo anti-imigração - os mesmos que dias atrás propuseram a inserção do símbolo de cruz na bandeira italiana, numa nova Cruzada contra os muçulmanos - distribuíam panetone e espumante para os passantes que assinassem um documento contra novas aberturas de sedes para o culto muçulmano. Passei direto pelo quiosque, com a sensação de ter, por algum instante, retornado ao período medieval.

Esta manhã, leio na rede que a Liga Nord, através do seu jornal de partido, continua a atacar o cardeal Tettamanzi, da diocese milanesa, conhecido pela pregação à tolerância religiosa e respeito aos imigrantes e à minoria. Os partidários xenófobos o acusam publicamente: "Tettamanzi é imã de Milão".

Não bastasse, leio também que 'la prima' do teatro Scala, com Carmen de Bizet, foi tumultuada com lances de ovos contra Vips e personalidades políticas por parte de manifestantes e operários desempregados, postados estrategicamente na entrada.

São os tempos que correm. Prefiro a revolução a evolução, destes tempos amargos.


sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Quintal


Estranhamente, não há uma precisa tradução em italiano para a palavra 'quintal'. Não se trata de nenhuma deficiência do léxico italiano. Como em todas as línguas, é apenas diferença de nuança, que só a própria realidade é capaz de sugerir a certas palavras. Talvez por isso, nunca me sinto completamente traduzida quando me refiro à palavra, com os amigos daqui.

Tal qual a nossa, na morfologia de construção da casa italiana inclui naturalmente um quintal - ora chamado de cortiletto di fondo , outra de giardinetto - , mas seu uso se limita apenas ao significado físico-espacial. Já para um brasileiro, o quintal não é apenas o fundo de casa; ele transcende a semântica. Foge ao controle e torna-se um conceito, quase sempre associado ao conforto familiar e doméstico. Torna-se privacidade, abundância, socialização e um universo de outras sugestivas sensações.

Minha avó possuía um pedacinho deste universo abstrato. Era o seu espaço de contemplação. Do seu quintal podia avistar o contorno azulado da majestosa serra da Mantiqueira ao fundo. Em tempos de florada, os distantes ipês tingiam aquí e alí de manchas amarelas os pastos vizinhos.

Passar as férias na minha avó exigia paciente espera por todo o ano escolar. Naquela idade, a distância até a cidade situada no Vale do Paraíba parecia uma viagem infinita quanto seria a Austrália, em tempos de hoje. Meu pai me puxava pelas mãos, de trem, através daquela sonolenta ferrovia São Paulo-Rio, sem nenhum horário preciso. Depois, pegávamos ainda o ônibus da Pássaro Marron, quando ainda mantinha a sua cor original, para descer naquele ponto onde frondosos e perfumados eucaliptos abriam caminho até a sua casa.

No seu quintal, o tempo passava lentamente. Um gigantesco abacateiro alimentava os porcos do curral, enquanto as goiabeiras ao lado não maturavam seus frutos. E de frente à sua cozinha, dois mamoeiros exibiam o ano todo os frutos daquele casamento. Meu tio dizia que o mamoeiro macho se sentia só, sem uma companheira ao lado. Só juntos é que podiam dar frutos doces, para a alegria das galinhas que ciscavam sob seus pés. Ainda hoje, quando vejo um mamoeiro no quintal alheio me pergunto se o dono se preocupou em encontrar uma noiva para ele.

Comprei estes dois mamões papaya esta manhã, já que reservo os finais de semana para colocar algo em boca que me conforte a nostalgia do sabor brasileiro. Quando me encontro na casa da minha mãe, faço questão de saboreá-los sentada no seu quintal. Um espaço confortante, ainda que seja todo cimentado. Enquanto sonho nesta parte do hemisfério, com uma casa em algum paraíso bucólico onde contemplar melhor a vida, me contento saboreando estas papayas vindas de longe.


terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Turistas sexuais no Brasil



Por hábito, peço sempre a última poltrona do avião quando a viagem é longa, na esperança de que eu possa dormir dignamente deitada, quando o voo não está lotado. A escolha do fundo é sempre uma loteria, pois nos reserva também surpresas desagradáveis. Se não é a incessante descarga no banheiro, são as pontuais conversas e gargalhadas incivis de passageiros entediados. Com a desculpa de esticar as pernas, se aglomeram lá no fundo em animados bate-papos. Sem o menor respeito aos que dormem em torno.

Mas foi naquele estreito 'ágora aéreo', que me ví inúmeras vezes transformada - ainda que eu fingisse profundo sono - em confidente involuntária de conversas de turistas estrangeiros, com aberrantes lugares-comuns acerca do país de destino. E não há desconforto ou frustração maior que ouvir suas piadas e não poder replicá-los, quando o tal destino é o próprio país de origem.

Na triste estatística pessoal, sete em dez viagens ao Brasil, ouví excitadas conversas de expectativas pelo paraíso brasileiro de "mulheres fáceis", por grupos despudoradamente constituídos apenas de homens, solteiros ou aposentados. Alemães, suíços, italianos ou holandeses, não importa; quase sempre com o destino final em alguma cidade da costa brasileira.

Nem é necessário compreender suas línguas para intuir o contexto, pois bastam alguns substantivos em português saltarem cá e lá nas suas conversas, intercaladas de grandes gargalhadas, como se ao redor não houvesse presença de brasileiros. Palavras-chaves como "mulata", "favela", "veado', "bunda" e outras coisas inomináveis, supostamente pescadas na internet ou nos guias turísticos promovidos no exterior pela própria Embratur. Ou até mesmo sugeridas por brasileiros que vivem nos seus países. E afinal, o que dizer se agências do próprio governo brasileiro instrumentalizam a expectativa, com fotos de mulheres seminuas, com o Corcovado ao fundo, para vender o próprio turismo fora do país?

Num dos tantos sonos roubados a caminho do Brasil, me chamou atenção uma conversa sussurrada entre três italianos, de me fazer estremecer, logo ao lado da minha poltrona. Supunham, talvez pelos meus traços orientais, a ignorância da língua. Valiam-se de expressões 'codificadas', mas bem compreendidas por mim. Discorriam sobre um brasileiro que os aguardava no aeroporto, com roteiro 'turístico-sexual' supostamente personalizado, incluindo aí a garantia de pousadas em companhia de 'ragazzini' e 'ragazzine', meninos e meninas, durante a permanência numa cidade nordestina. E sem nenhum pudor, e com uma calculadora nas mãos, se puseram a contabilizar a 'tarifa' delle ragazzine - como fosse aquisição de mercadoria qualquer - e outras vantagens oferecidas pelo câmbio de moedas.

Hoje de manhã, ao ler este artigo na Folha, meus dedos dispararam sobre os teclados para escrever este texto. Um impulso talvez para contrapor o senso de impotência perante conversas como aquelas, ouvidas durante os voos, e pela ausência de um cerco mais severo contra o turismo sexual no Brasil. E quanto ao artigo, Robin Williams apenas confirma o que se espera do nosso país. A começar pelo que a própria Embratur vende aos estrangeiros.

Segundo os dados de 2008 da Unicef, 80 mil italianos se lançam anualmente ao turismo sexual.
Quantos serão os americanos, japoneses, alemães e outros tantos estrangeiros prontos para o embarque hoje?