quarta-feira, 18 de março de 2009

Milão X Tóquio


É inevitável que os japoneses que recebo em Milão acabem por comparar o custo de vida local ao de suas respectivas cidades. O que me surpreende é que mesmo os de Tóquio, se espantem com preços de muitos bens de consumo. E ao conhecer uma miríade de taxas e pesados impostos locais, acabam por questionar os parâmetros aplicados por estudiosos econômicos que de tempo em tempo estabelecem rankings de cidades mais caras do mundo.

Se o salário médio italiano está entre €1.200 a €1.400 líquidos, os valores mais elevados são atribuídos ao milanês, por concentrar em si toda a atividade econômico-financeira do país. Mas comporta também os paradoxos. Com a liberalização de mercados nos últimos 10 anos, os jovens recém-formados (e pós-graduados) sucumbem a novos contratos com salários entre €900 a €1.000, quase sempre em áreas mais disparatadas e sob a constante pressão de ver a renovação negada. Situação inversa ao de operários com salários superiores, garantidos pelos velhos contratos, como também de prestadores de serviços como encanadores, pintores, eletricistas ou pedreiros. Mesmo um engenheiro formado neste mesmo período, com experiência inferior a 5 anos, pode não chegar a €2.000 líquidos.

Isso explica a razão de quase 70% de solteiros do país, entre 25 a 35 anos de idade, viverem com a família por longos anos. O aluguel de um apartamento mais econômico, o monolocale, custa em média €800 nos bairros milaneses. Isso já representa de 60 a 80% do salário destes jovens. Trata-se de imóvel com ambiente único e banheiro, com menos de 30 metros quadrados, correspondente ao que chamam de "one-room mansion" no Japão.

O mercado imobiliário milanês não oferece alternativas como quartos de aluguel ou pensões para os menos abonados. Ao contrário, o que Tóquio carece de espaço, há de opções de preços. A mesma tipologia de imóvel, com espaço físico pouco menor que o milanês, custa em torno de 30 a 35% do salário médio de um jovem profissional da capital.

O hipotético Giovanni, um bancário milanês de 30 anos, com seus €1.200 mensais pode apenas sonhar com a vida independente. Ainda que fosse possível, ele deve ainda incluir nas equações o seguro e taxas obrigatórios do carro, cujo modelo popular não sai por menos de €800 ao ano. Há despesas domésticas como luz, telefone e gás (mínimo €50 cada conta), além do combustível e alimentos. E há a despesa diária do almoço.

Com exceção das grandes empresas, que oferecem bônus-alimentação para o almoço - ainda que a metade do valor seja completado do próprio bolso - ,um trabalhador de média e pequena empresas possui duas opções econômicas: um sanduíche e uma bebida por €6 a €7. Ou um prato comercial de €12 a €15 nos bares mais modestos.

Num rápido cálculo, um prato comercial custa a Giovanni cerca de 1,2% do seu salário, enquanto ao bancário Hideki, o seu correspondente japonês de Tóquio, bastará 0,5% do salário médio de 170 mil yens que lhe cabe, ao pedir um teishoku popular. A esta altura, se Giovanni tiver o aluguel sobre os ombros, comer fora à noite se torna um devaneio. Um modesto jantar numa trattoria comum, consultando cuidadosamente a coluna de preços e não o de pratos, gasta-se em média €30 por pessoa, ou 2,5% do salário. Mesmo num hapy-hour no bar da esquina, arrisca-se a desembolsar €20 em poucos minutos.

Como diz um velho cliente de Tóquio, que há mais de 20 anos acompanha o processo econômico italiano, não há economia mais precisa que a do bolso do cidadão comum, que ele chama de "economia de percepção". O resto, é estatística fria saída de confortáveis muros de gabinetes.

3 comentários:

Paola disse...

Interessante essa comparacão!
No fim a história é quase sempre a mesma, as grandes cidades estão ficando impraticáveis!
O pior é que fora delas as opções diminuem muito!
Aqui em São PAulo ocorre algo semelhante, os imóveis mais centrais estão muito caros, o trabalhador acaba se afastando muito e gastando em conducão.
Tem jeito?

Beijo

PAola

Adrina disse...

Assustador. Ainda acho ótimo morar em BH, porque gasto apenas 25% do meu salário atual com aluguel de um apartamento de 2 quartos, relativamente confortável e a 25 minutos do centro, lembrando que divido com maridón.
O custo de vida europeu, principalmente na Itália, a mim parece que tem crescido muito desde os anos 90; é só impressão minha? O glamour de morar na terra da bota tem seu preço. não é? Beijos!

Jorge Ramiro disse...

Tóquio é um lugar bonito. Tudo funciona bem lá, as pessoas sao corretas. Não há crimes. Eu tenho alguns restaurantes em itu e viajo moito a Tóquio. Amo Toquio.