quarta-feira, 4 de março de 2009

Desemprego



A versão online do jornal italiano La Repubblica abriu ontem um espaço no qual os leitores podem mandar seus breves depoimentos sobre o drama do desemprego. Até esta manhã, já haviam quase 900 mails de homens, mulheres e jovens dos mais variados setores e profissões, cujas idades, na minha rápida visão, se concentram entre 35 a 55 anos.

De setembro a janeiro deste ano, 20 mil trabalhadores fixos perderam seus empregos neste país, e dos 3 milhões de trabalhadores por contrato com o prazo a vencer este ano, apenas 40 a 75 mil poderão assinar sua renovação, segundo sindicatos. A consequência já é previsível.

Numa realidade em que não se permite soluções pessoais através de "jeitinhos", recomendações, cabides e muito meno o trabalho informal no qual se reparar, o drama descrito em primeira pessoa traduz a crise com mais precisão que qualquer estatística com números frios.
Nos depoimentos, nota-se um grande número de mulheres profissionais, que se perguntam como poderão reinserir-se no já minguado mercado de trabalho e ainda passar pelo crivo da idade sem perder a própria dignidade. E há ainda a família, os filhos e a educação futura, já que a economia doméstica para a família média italiana (como para o resto do continente) é sustentada por dois pilares.

De fato, não conheço mulheres ao meu redor que não trabalhe. Por necessidade ou não, casadas ou solteiras, com ou sem filhos. Para a grande maioria delas, o trabalho está relacionado à dignidade como um bem individual, e não adquirido através de parceiros. A filosofia de "encostar o burro à sombra" não subsiste nem mesmo nas regiões mais pobres do país. As poucas mulheres que não trabalham fora, - ou, que não possan auxiliar na economia doméstica - há quase sempre razões familiares que vão além da questão econômica.

Um fato que chama a atenção é que quase todos os depoimentos pelos quais passei os olhos, citam a armadilha do mobbing (humilhação no exercício profissional para forçar a demissão) na qual caíram como presas. Através de intrigas, perseguições e pressões por parte dos companheiros de trabalho como das empresas. Um inferno gerado pela concorrência e pelo medo do desemprego, num maldoso jogo de poder. Há os que já não descartam o suicídio; uns vivem imersos em profunda depressão e outros em dívidas acumuladas, sem citar as consequentes fragmentações familiares.

Mesmo que a insegurança com o desemprego pareça alarmar mais as mulheres que os homens, na minha rápida leitura observo que elas tendem a ser mais tenazes em encontrar novas soluções e dispostas a virar rapidamente a página. Mesmo a custo de sucumbir a salários inferiores ou aceitar funções menos qualificadas. Neste aspecto, os homens parecem mais vulneráveis, por tocar o orgulho e a dignidade. Será talvez a distante herança cultural, que ao longos dos séculos estabeleceu a figura masculina como o pilar de todas as instituições sociais.

E pensar que estamos apenas no início da crise...

3 comentários:

Anônimo disse...

Lu,
Falando em desempregados...

Teve uma reportagem sobre as cidades mais afetadas pela pobreza no Brasil, onde o desemprego é de 100./., sendo que o único emprego que existe é como empregada doméstica (sem registro) com salário de R$40.00 por mes!
O governo dá para a familia R$1500,00 para a ajuda pós parto e as mulheres fizeram disso um trabalho com ganho anual. Havia mulheres que tiveram 21 filhos para garantir sustento e comprar antena parabólica!
Darling,
Caso eu fique sem emprego nem isso vou poder fazer... que injusto!
Bjs
Anna

Kenia Mello disse...

E agora é que por aqui o governo criou uma comissão para o enfrentamento da crise, mas não sem antes o Mantega dizer que seremos o primeiro país a sair dela - o que já é alguma coisa porque antes nem se admitia haver crise por aqui...
Beijos.

Adrina disse...

Triste. Eu tenho andado muito preocupada com isso. Tem uam sombra me rondando e isso é motivo para olheiras.