sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Dieta Preventiva



Estas verduras? Estou só comendo isso desde ontem, para obter uma espécie de absolvição retroativa do pecado que vou cometer este final de semana. Como as costelinhas do what we're eating aqui abaixo.




terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A dignidade do seu Paulo

Há fatos que nos comovem tanto que nenhum adjetivo é suficiente para expressá-lo. Um e-mail que recebí ontem foi um destes casos.

Quando conhecí seu Paulo em 2003, durante as minhas férias no Brasil, ele havia acabado de adquirir um velho Corcel, enferrujado como as sucatas que recolhia pela cidade. Havia comprado à prestação, a perder de vista. Da carroça de mão, estava dando um salto de qualidade com este ferro-velho motorizado. Uma mão na roda também à sua família. Enquanto a esposa e seus filhos recolhiam latas e papelões pelas ruas, ele os reagrupava e transportava para a revenda. Quando o carro funcionava.

Mas seu Paulo sonhava alto. Havia encontrado um terreno onde montar um depósito de sucatas, o seu primeiro e próprio negócio. Faltava-lhe apenas a soma para adquirir uma balança industrial, de segunda-mão, para que o sonho fosse possível. Sem que ele me pedisse, apostei na sua honestidade.

Passaram-se 5 anos e nunca mais o ví durante as minhas férias sucessivas. Minha mãe não o encontrou mais pela cidade, assim como nunca o procuramos. Não queríamos constrangê-lo por aquele modesto valor.

Encerrei o seu sumiço apenas como um mau costume brasileiro. Diante de exemplos macroscópicos dos nossos governos, seu Paulo era um caso irrelevante. Poderia ser um ingrato, mas era também um grande trabalhador.
Preferí reverter o valor em gratidão. Pela prontidão com que sempre socorreu a minha mãe nas emergências. Quando corria para trocar um fuzível do chuveiro ou consertar uma telha quebrada. Mesmo após uma jornada extenuante puxando a carroça pela cidade. Nunca nos impôs um preço pelos seus serviços, senão, sob pressão da minha mãe.

Ontem, recebí um e-mail da minha família. Me informava perplexa que o seu Paulo, depois de 5 anos, batera à porta da minha mãe, esperando que eu também me encontrasse no país. Levou consigo um bolo de comprovantes de depósitos bancários feitos à mim.
Contou que seus primeiros anos foram difíceis e perdera até mesmo o velho Corcel, para retornar à carroça de mão. Se envergonhava de nos procurar.
Ao recuperar a estabilidade, decidiu que saldaria a sua dívida moral. Desde o final de 2006, - sem que a minha família ou eu percebesse - estava todos os meses me restituindo o que lhe sobrava no final do mês. O seu último depósito foi feito agora, logo após o Natal. E o fez, por mais de 2 anos, sem nos avisar.
Dentre os comprovantes, há meses em que me depositou apenas 30 reais, sabe se lá com quanto sacrifício e renúncia. Preferiu fazê-lo em silêncio a aceitar nossa recusa pela restituição.

A dignidade do Seu Paulo não há preço. Não se compra e nem se vende a nenhum dinheiro.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Robert Frank

Foto: Robert Frank, da série "London Wales"


Um pouco antes do Natal, estive numa mostra de fotografias de Robert Frank, intitulada “O Estrangeiro Americano” no Palazzo Reale, desta cidade. A mostra é parte do acervo proveniente do Fotomuseum Winterthur e de Fotostiftung Schweiz, de Zurique.

Aprecio fotografias em preto-e-branco. Muito. Fico extasiada com o poder da lente, de captar um flagrante e resumir em sí toda uma história. Razão pela qual minhas paredes da sala e quarto são compostas apenas por posters de Gianni Berengo Gardin, Robert Doisneau e Louis Stettner. E não me canso de observá-los.

Pena que seja difícil encontrar posters de fotografias, hoje em dia. Digo, os baratos. Tenho um amigo que possui um Sebastião Salgado original. A foto de pescadores sicilianos de atum. Não faço nem idéia quanto tenha pago pela obra. Mas o $ servirá, certamente, ao Salgado de continuar suas andanças pelo mundo para retratar a pobreza que nos circunda.

Saí de lá pensando na minha Nikon F2, que há mais de 20 anos repousa na minha gaveta no Brasil. Foi presente de um grupo de amigos jornalistas. Caros amigos. Um instrumento cujo potencial está há anos-luz da minha capacidade de manuseá-lo. Não sei retratar. Sei apenas tirar fotos.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Meu pão



Diretor Italiano:
- Disse que entregaríamos o pedido no dia 8, mas atrasamos apenas 35 dias, watz de problem, cazz...? Tivemos as greves dos médicos, dos garis, dos carteiros e dos caixas de supermercados, que influíram no atraso, capisce?!!! Du yu anderstanda?! (ignorando a minha presença de intermediária...)

Diretor Japonês:
- Aru yu kiddingu? E o que tem a ver a entrega do pedido de nossos calçados com garis e médicos!? Ai donto biríbu! (outro interlocutor ignorando a minha intermediação...)

DI:- Ecco, depois dizem que os japoneses são flexíveis e gentis!!! Ma vaffanc...!

Eu: - Mas essas greves ocorreram há 2 meses, muito antes do dia da entrega...(intervenho, para defender o meu pão...)

DJ: - Mistá Moretti, peru fabore, então, cancelamos o pedido e nevá mor de negócios com a sua empresa. Trocaremos de fornecedor... Kono bakamono!!..

DI: - Ah... é così!? Então não devolveremos o dinheiro da entrance, a entrada de 30% do pedido, porque é de lei, de lei, capisce?!

Eu: - Por favor, senhores, vamos entrar num acordo. Signor Moretti, como é possível 35 dias de atraso? A tese das greves não se sustenta!

DI: - Vai, per favore, convence o giapponese que não é minha culpa, mas do departamento de produção...

Eu: Ueéé´!? Mas o senhor não é o diretor?

DI: - Tudo bem, mas a mia mamma estava doente! E não vai me dizer que o caz.. do giapponese também não tenha uma mamma!!!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Gás russo



Quem diria que eu, na pequenice da minha luta ofegante, dependeria de um diálogo entre Putin e Yushchenko para determinar o destino das minhas dores cervicais.

Em represália ao alto preço imposto por Rússia, a Ucrânia decidiu ontem fechar 3 dos 4 gasodutos russos que passam no seu território, através dos quais transportam o conforto do calor em casa e garante o meu gohan de todos os dias. Meio continente e eu aguardamos a notificação: ou restabelecem um acordo, ou viramos picolés em poucos dias.

Os países do centro e leste europeu são os mais prejudicados, pela dependência total ou quase, do gás russo. Já a Alemanha e Itália respondem por quase a metade do seu consumo na UE, o que já me faz prever que a balança vai pender para o nosso lado: a Rússia vai elevar o preço do seu gás - e consequentemente o governo italiano vai especular em cima de nós, camuflando-o em rigor fiscal. E vou ter que recuperar a churrasqueira e o carvão guardados na minha cantina.

Se não bastasse, o frio chegou prepotente neste primeiro dia útill. Faz 48 horas que não para de nevar. O frio eu aguento, mas não me tirem o gohan, ou eu viro uma "filha de Putin".

domingo, 4 de janeiro de 2009

Miss Universo



Quem vos escreve hoje é esta Miss Universo felina. Minha amiga bípede, digo, humana, está muito empenhada com a arrumação de casa, porque vem mais gente hoje e amanhã, pra me tirar o sono. O povo não trabalha? Dia 6, terça-feira, é feriado de novo! De novo! E ainda reclamam da crise!


Esse vai-e-vem em casa está arruinando a minha beleza. Além de comer como porcos, os amigos dela ficam o tempo todo do jantar falando mal de um tal de Bush e de "filho de um Putin", que eu nunca os ouví falar. Ela também fala mal de um cefalópode, uma coisa chamada "lula", mas bem que ela não nega um sushi feito com o tal do presidente.


O meu Natal? Humpf.... Minha amiga me deu um arranhador novo de presente, vê se pode. Não preciso daquela coisa de cordas. Ela disse pra eu usar essa geringonça, pois cada vez que afio minhas unhas no sofá novo dela, me olha torto. Fica o tempo todo me jogando na cara que o sofá custou uma pequena fortuna.


Já o meu servo, digo, o meu amigo humano, é muito bonzinho e tolerante. Ele finge que não vê o buraco que já fiz atrás do sofá, nem que eu desfiei um echarpe novíssimo que ele deu de presente pra ela.

Ando preocupada com o meu servo, pois ele não desgruda mais do sofá, desde o Natal. Fica deitadão, tomando o seu vinho e beliscando seus aperitivos. Ele anda se alargando de lado e de frente. E eu o vejo indo sempre ao banheiro e subindo num treco chamado balança... Olha intrigado para os números, e depois, se senta desnorteado e desconsolado. Queria tanto entender o que são aqueles números...


Humpf... vou me esconder, pois daquí a pouco, chega aquela gentalha e vai querer me agarrar.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Dois pastel!



Fiz pastéis, sim, conseguí. Não vieram exatamente como os do Seu Kazuhiko da feira, nem do seu Raimundo, do boteco da esquina. Mas os convidados não deixaram nem uma migalha.

Na realidade, eu queria comer estes pastéis em pé, levar um banho de partículas gordurosas da barraca, disputar o molho gorduroso de tomate e repolho (daqueles com molho mais para fora do que dentro dos tupperwares) e me queimar com pimentas baianas. Ah, pisando centenas de guardanapos sujos no chão, para autenticar a brasilidade de Sumpaulo.

E para explicar de onde vem o pastel? É chinês remodelado. Muito remodelado. Surrupiado por japoneses do Brasil como fosse de sua tradição. Mas vendidos em todos os botecos da Canoa Quebrada a Arroio do Chuí. É inútil. Eles não entendem. A globalização étnica ainda não chegou por aqui....