quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Boko-Moko

Bolsa Gucci. Preço ao público: € 1.640,00. Consumidores: classe média, e não rica, que abomina grifes. Paradoxal...

Estou naquela idade em que não sou mais mocinha há um bocadinho de tempo, mas não suficientemente madura para que o meu guarda-roupa cheire a naftalina. Digamos, over 40 e under 50, para ficar mais bacana.

Me sinto naquela fase em que um poste e a minha presença talvez se confundam. A remota lembrança do último "psiu" já se perdeu no século passado. A menos que hoje, e por algum mistério, eu receba um psiu por engano, ao passar num canteiro de obras onde casualmente trabalhe um pedreiro idoso com problemas hormonais.

Trabalhando num setor no qual todos parecem ter saídos de uma página de revista, tudo se torna complicado. Antes de me vestir para o trabalho, o meu guarda-roupa pede clemência para que eu priorize a comodidade.

E se o cliente for daqueles vaidosos que aparecem cobertos de últimas tendências, a minha preocupação se redobra. Se apareço "boko-moko", perco respeito. Pior, perco o cliente. Mas na minha precariedade, mantenho alguns segredos guardados na manga. Meus critérios para a tríplice "moda-idade-conforto"?

1- Calça de corte moderninho, mas com cintura elástica.
2- Peça superior que disfarce a bunda minguante. Pode ser um sobretudo, mesmo de baixo de 30 graus.
3- Nada de decotes que não cubram o que não existe.
4- Sapatos moderninhos, possivelmente de salto "anabela". E sola de borracha, que não escorrega.
5- Calcinha elástica grande, que esconda o pneuzinho e não amontoe nas entranhas. No rego mesmo.
6- Bolsa de design, mas grande, por que na volta, passo sempre num supermercado. A porção comadre é mais forte. E ainda tem que conter remédios para a memória, pressão alta, dores cervicais e 2 pares de óculos. Um para longe e outro para perto.
7- Óculos de sol moderninhos ou atualizados, mesmo quase cega, por não possuir os graus necessários e por achar besteira gastar nisso.
8- No inverno, ceroulão de lã sob a calça. A probabilidade de me despir é nula, se não, apenas entre mulheres.
9- Botas. Porque escondem aquele par de meias desbotadas e cheias de bolinhas, mas muito quentinhas.
10- No verão, camisa de linho. O requinte está no amarrotado, coisa de nobres no veraneio toscano, ainda bem. Economiza-se tempo e energia.
11- Idem com a calça de linho, o que conclui-se que passo todo o verão amarrotada.
12- Camiseta simples do tipo D&G, variando apenas com colares. Mesmo que a etiqueta interna seja D&O, por tê-la comprado numa chinesa para economizar.


O que não fazemos para defender nosso pão... Poderia prosseguir por muito ainda, mas aí já vão dizer que a minha bokomokice é coisa de over 70!

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Brasileiros

Edvard Munch - "Ashes" ("Cinzas") - 1894

É difícil conter o mal-estar.

Há cinco dias acompanho uma executiva japonesa de Nagoya, compradora de uma grande empresa do setor textil, cuja relação profissional já dura há mais de 14 anos.

Sua permanência em Milão é sempre breve, com agenda plena, pouco sono e muito trabalho. Divorciada e sem filhos, não se intimida diante de grandes desafios. Sua competência é respeitada por obtusos homens de negócios, italianos e japoneses.

Ainda que eu a receba pelo menos quatro vezes ao ano nas temporadas de moda, sempre declinamos confidências superficiais, mantendo nossas conversas a interesse estritamente profissional. Mesmo durante um jantar, nunca superamos a barreira imaginária que o bom senso estabelece como vida privada.

Desta vez, porém, notei uma apatia incompatível ao seu vigor habitual. Estimulada talvez por aquela taça a mais de vinho, ela se confessou mais vulnerável e inquieta pelos últimos fatos. Acabara de perder um grande amigo. A quem suponho, nutrisse uma profunda admiração. Morrera atropelado e sem socorro. Para o meu estupor, supostamente por um brasileiro.

Para sufocar minha indignação e vergonha, tentei desviar o infortúnio a uma casualidade para confortá-la, não fosse o golpe final a me fazer definitivamente calar por qualquer justificativa.

Em outubro, ao retornar da sua penúltima viagem de Milão, encontrou o seu apartamento de Nagoya arrombado e destruído. Obra de um grupo de brasileiros, que já responde ao processo por este e mais dezenas de outros crimes cometidos na sua região.

A prisão dos brasileiros não lhe restituiu, porém, a serenidade. Nem o conforto emotivo que a própria casa nos oferece ao retornar do trabalho. Ao lembrar da intimidade violada, com seus armários e objetos pessoais revirados e manuseados pelas mãos desconhecidas, ainda lhe causa repugnância. Sensação que ela compara ao estupro, uma violência à alma. Para se refazer da agressão, ficou mais de dez dias vivendo num hotel, esperando o medo passar.

Pelo tempo restante do jantar preferiu apenas discorrer sobre a fragilidade humana, que do fato em questão. Da impotência, da solidão e da angústia. Sua discrição não permitiu avançar sobre quem fosse o amigo que perdera e o que a representasse. Sei apenas que a Polícia japonesa ainda procura o assassino brasileiro. Preferiu fechar o argumento dizendo que não há nenhuma prisão ou pena que a faça fechar a ferida.

Em 14 anos, foi primeira vez que a ví tão frágil. Com a promessa de nos encontrarmos em março, me despedí rapidamente, pois já não suportava mais o embaraço diante daquela pessoa.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Rei Giorgio



Não fosse o bate-boca midiático entre Armani e Dolce & Gabbana, do “copiou-não-copiou” uma calça em matelassè, para ganhar um modesto facho de luz, a semana Milano Moda Uomo teria repetido o resultado da Pitti Immagine Uomo, de Florença. Um furo na água.

Nem a mídia consegue sacudir a apatia do mercado de moda. Enquanto os estilistas desfilavam seus produtos esta semana, os olhos se voltavam à posse de Obama e aos boletins diários de demissões, quebradeiras e greves ao redor do mundo. Quem de fato sustenta este mercado é a classe média. O rico não consome e nem almeja o luxo, é apenas o sujeito de inspiração.

Como nas temporadas dos últimos anos, a cidade recebeu poucos jornalistas internacionais, - somente os que contam - menos compradores estrangeiros e ainda menos celebridades.

Celebridades, só em fevereiro, quando começa a temporada de maior peso econômico, a moda feminina. Os estilistas estão cortando todas as despesas de passagens, cachês e estadias destes convidados. Em Milão, as celebridades não arredam os pés se não houver a garantia de estadia no hotel Four Season ou Principe di Savoia, sabem como.

Nesta sonolência, quem roubou todos os refletores dos estilistas foi, como era previsível, o casal Beckam. O casal não vende produtos como os estilistas. Nem mantém indústrias que sustentam milhares de trabalhadores. Ele é o próprio produto.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Alguém sabe?



Estou aceitando dicas. Algo rápido, cujo método seja indolor, fácil, barato, tempestivo e eficaz. Não querendo abusar da boa vontade alheia, queria algo que não exigisse exercícios físicos, cirurgiões e cremes caros. Não, não peço nada de milagroso. Apenas algo que chegue próximo a esta foto acima, que já está de bom tamanho.

1 - Alguém sabe como levantar e enrijecer bunda flácida? Algo facinho, bem veloz mesmo.

2 – Como eliminar um pneuzinho sem ter que fazer milhões de flexões?

3 – Como aumentar a saliência do peito minguante sem sair de casa?

4 – Como sorrir sem formar os primeiros micropés-de-galinha?

5 – E por fim, se tudo der certo, alguém sabe o telefone do Clive Owen? Pode ser o do Brad Pitt, nenhum problema.

Pai

Painel exposto ao ingresso da mostra "O Mistério da Natureza, de Magritte, anunciando a inauguração do museu em junho, em Bruxelas, exclusivamente dedicado a ele.

A primeira vez que ví as imagens surreais de Magritte foi no final dos anos 60, nos meus 8 ou 10 anos de idade, com um misto de fascínio e incompreensão. Foi em uma revista japonesa, que meu pai adquiria numa importadora de São Paulo. Duas páginas recheadas de nuvens, circunferências e a sua marca registrada, o chapéu-coco.

Ele amava pinturas e fotografias. Teria 92 anos hoje, se estivesse vivo. A duras penas, ocupou-se por toda a vida no sustento de cinco filhas. Ainda que restassem apenas trocados no seu bolso, encontrava modos de adquirir livros ou revistas relacionadas às artes. Escondido da minha mãe, o que lhe custou duas separações. Renúncia de mãe é infinitamente maior em todos os tempos. Não fosse o último retorno, eu nem teria nascido.

Fui à mostra de Magritte na semana passada, intitulada “O Mistério da Natureza”, nesta cidade. Percorrí os 110 quadros pensando nele. Se tivesse tido uma única oportunidade na vida de conhecer alguma obra de perto, como um bom japonês que foi, teria preferido um impressionista a um surrealista.

Em todo o caso, dediquei o dia a ele.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Redenção




O arrependimento na última costelinha.

Primeiro, vieram as verduras. Depois, o desejo. Para o pecado foi só um passinho. Mas nesta segunda-feira, retorno à autoflagelação.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Dieta Preventiva



Estas verduras? Estou só comendo isso desde ontem, para obter uma espécie de absolvição retroativa do pecado que vou cometer este final de semana. Como as costelinhas do what we're eating aqui abaixo.