terça-feira, 20 de outubro de 2009

Revista Seleções e a infância

Norman Rockwell

A pouco mais de cem metros da minha casa fica o prédio onde até dezembro de 2007 sediava a editora italiana da revista Reader's Digest, a Selezione. A versão italiana antecipou de dois anos a bancarrota que a matriz americana está para anunciar, depois de 77 anos de história. Está em vermelho astronômico de 2,2 bilhões de dólares. Apenas no mercado americano.

Da janela do meu quarto posso avistar o prédio, hoje ocupado por outras empresas. E ao abri-la, é inevitável não me recordar de sua edição brasileira e da minha infância. Infância cujo período era a cavalo entre o final dos anos 60 a meados de 70. Sou caçula de muitas irmãs, de cujas leituras incluía a revista Seleções. A pequena revista se movia pela casa, ora no banheiro, ora no sofá, para quem quisesse folheá-la.

Tratando-se de tradução americana, a revista era de fato um compêndio condensado da doutrina americana no combate à ameaça soviética. Com acesas propagandas anti-comunistas, - como a seção "Conversas na Caserna" - , razão porque a revista era certamente classificada como 'reacionária' por aqueles brasileiros que combatiam a ditadura militar de então.

Longe de ser reacionárias, minhas irmãs eram assíduas leitoras de suas dietas, biografias de personagens célebres, sinopses de alguma nova descoberta científica ou resumo de um romance. Mas, sobretudo, devoravam os imperdíveis aforismos nos rodapés de suas páginas. Quase sempre muito moralistas e patrióticos, que enalteciam o modo de vida americano. Com seus cortadores de grama, halloweens, disciplinas militares e coisas que eu nunca os havia ouvido falar.

Tendo apenas 11 ou 12 anos de idade, eu me concentrava mais nos rodapés, cada vez que elas chegavam da banca com a nova edição. Eu corria para ler primeiro a "Pausa para o Café", seguida de aforismos e piadas.

Foi também nesta revista que me encantei, pela primeira vez, pelas pinturas de Norman Rockwell, quem ainda o associo àquela revista. Minha primeira 'paixonite' por algum pintor, talvez. Mas colecionava também minhas leituras infantis, a revista Recreio e os fascículos da enciclopédia Disney, enquanto me entupia de dadinhos Pingo de Leite naquele velho sofá vermelho.

Só me distanciei da revista Seleções por volta de 73 ou 74 - sempre por tabela - , quando minhas irmãs já haviam diversificado suas leituras entre as revistas Planeta e a musical Pop, para disperdê-la completamente nos anos sucessivos.

Afinal, a tevê em cores estava para chegar ao nosso lar. Mas não sem antes ter comprado aquela folha plástica em três faixas de cores - azul, vermelho e verde, se não me engano - que colávamos no aparelho para fingir que já dispúnhamos de cor. Estávamos sob o governo Médici, e eu nem sabia o que fosse uma ditadura militar.

8 comentários:

KS Nei disse...

Yeah!

Li muito na infancia tambem.

Adrina disse...

Porque você sempre tira pensamentos de dentro da minha cabeça e põe aqui? Ou porque fala coisas que eu não havia pensado, mas estava bem ali, ó, diante do nariz? :)
Eu li Seleções na infância e adolescência, idos de 80 e 90, e recebi com tristeza a notícia de dua "quebra".

LuMa disse...

Nei e Adrina:

Vejo que a gente recebeu muita coisa da Seleções na infância, ainda que fosse muitcho americana. Na fase adulta, tive o meu período xiita, e a desprezei por um tempo. Até compreender que muitos artigos culturais que eu lera na infância havia influenciado as minhas informações. Só pelo N. Rockwell já me valeu a leitura. ;)

Adrina disse...

O bolo dá pra fazer com banana também.

KS Nei disse...

Na revista POP eu vi a foto de um punk pela primeira vez e pensei no fim do mundo.

Anônimo disse...

LUMA, SOU VICIADA NA REVISTA SELEÇÕES, ALÉM DE COMPRAR TODO MÊS, COMPRO TBÉM NOS SEBOS Á R$ 1,00 CADA, TENHO UMA COLEÇÃO, INCLUSIVE UMA DO ANO EM QUE NASCI 1964, GUARDO COMO UMA RELÍQUIA. SEMPRE TENHO UMA NA BOLSA QUE LEIO NAS FILAS DE BANCO, CORRÊIO ETC ETC. FIQUEI TRISTE COM A NOTÍCIA!BJUSSSSSS

LuMa disse...

Regina:

Eu sabia que vc ia aparecer. Só estava te esperando,rs! Rê, essa da edição de 64 tem que guardar com muito carinho. Segundo um artigo daquí, me parece que nem em todas as línguas vão desaparecer. A brasileira, por enqto me parece salva. Ainda. Ah, e a revista Pop, que saudade, hein? Estimulada pelo Nei aí em cima, fui ver algumas capas da Pop no Google e encontrei uma edição de fevereiro de 73!

Adrina disse...

Lu, tabuleiro eu sempre escutei no Espírito Santo.