A chuva e o frio tentaram me impedir, mas não havia ocasião melhor que ontem para ir à mostra de Edward Hopper. Numa quinta, evita-se visitas guiadas de estudantes. Com a chuva, menos visitantes casuais. E menos incivilizados que se põem à nossa frente para monopolizar a apreciação dos quadros.
Sol da Manhã, de 1952
Conhecí, em primeira pessoa, o vazio que a depressão provoca à alma humana. Talvez por isso, foi inevitável não me reconhecer nas representações de Hopper. O mal da desolação, melancolia e sensação de estagnação da vida já lhe era contemporâneo na Nova York das primeiras décadas. Ele apenas as retratou com minuciosa observação a iluminação daquele panorama ordinário.
Se sabe, suas paisagens rurais e urbanas são sempre desertas, privas de figura humana. Sua importância é secundária e a não-expressão desta presença a cancela de algum significado na obra. Uma ambientação quase noir, como escreve o próprio curador da mostra. Como a figura feminina sentada sobre a varanda ou aquela sentada sobre o leito, de frente à janela, ambas que observam o nada. E há a casa de veraneio, estação ferroviária ou o posto de gasolina, todos desertos. O que essencialmente inquieta o observador é o vazio.