domingo, 30 de agosto de 2009

Antidepressivo

Há fotogramas que valem mais que cem cápsulas de fluoxetina.

Como este, de olivas encontradas numa pracinha mal cuidada, de frente ao lago de Lecco. São frutinhas antioxidantes para a saúde. E - sobretudo - , antidepressivos para a alma.


Elas nunca se tornarão azeite e nem acabar num pote de conserva. Eu as quero perseverantes nos seus galhos até o inverno. Sem as jóias verdes a pracinha não há vida.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Calor, calor e calor



O vale de Hinom é Q-Suco para os meus ouvidos neste momento.

Está um inferno de calor. E a previsão é de chegar aos 40 graus, - a perdurar até o próximo sábado - sem uma gota de chuva por estes dias. Na sombra ou no sol, o calor persegue, umedece as vísceras e causa um tilt em qualquer cérebro. Voltei na hora errada de São Paulo.

O meu condicionador de ar é um modelo móvel. Daquele com rodinhas, que pode mudar de ambientes. Comprei quando a lei proibia "macular" a estética dos edifícios seculares, instalando aquele "horroroso e tosco" condicionador fixo nas fachadas. Em nome do bem-estar coletivo, alguma boa alma do Parlamento permitiu há dois anos que nós mortais pudéssemos sobreviver no magma de julho e agosto. A correria para a instalação dos fixos foi geral. Menos eu, com este velho modelo.

A Proteção Civil italiana já está mobilizando a população para sobreviver a este calor, e se prevê, inevitavelmente, morte de mais idosos.

Nesse meio tempo, o meu condicionador está trabalhando a todo vapor, mas não está dando a conta do recado. Programo para chegar aos 20 graus, mas "male male" requer ao menos cinco horas para descer até 27 graus.

Adeus, caso eu não poste mais nada. E se sobreviver, vou instalar os fixos depois das férias.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

$$$ de euros


A possibilidade é de 1 em 622 milhões, mas vou tentar. Nascí pelos pés; quem sabe, tenha nascido curvada e de costas para a lua...

São quase 140 milhões de euros (R$370 milhões) acumulados na Superenalotto, que amanhã tentará pela enésima vez escolher o sortudo.

Mas confesso. Não possuo quociente para administrar nem um milhãozinho, o que fazer desse trem?

Bom, estou precisando trocar a minha lavadora, pra começar...

domingo, 16 de agosto de 2009

Subúrbio


Quando me encontro no país, utilizo com frequência o trem suburbano que coliga São Paulo e a cidade onde mora a minha mãe. Entre perder o tempo no eterno tráfego na Marginal Tietê, a poluição de seus escapamentos e o mau humor coletivo que isso gera, melhor a pontualidade da ferrovia. Ainda que esta provoque também a sua inconveniência: o inevitável panorama que enche nossos olhos através de suas janelas. Todos os males de um país resumidos lá fora, naquela paisagem desoladora de miséria e degradação. Uma favelização que serpenteia por todo o subúrbio, e que a cada ano parece abocanhar novos espaços públicos e privados que encontra à frente, até alcançar a opulência da Capital.

Este artigo de Lya Luft traduz com exata precisão a reflexão pela qual sou tomada a cada sacolejo naqueles 50 minutos de percurso.

Ainda que persista a apatia e indiferença nas feições dos próprios passageiros, não posso negar a minha consternação. Não quero ser condescendente com o estado das coisas. E nem o retorno ao conforto do lar, à cidade e ao país que me abriga me faz parar de pensar.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Boteco da LuMa - "Volto já!"

O boteco está de viagem nesta quarta. Parte para buscar inspirações na fonte. Lá onde o prazer gustativo se alia ao perene cheirinho da Marginal e do escapamento de um Bandeira-Santo Amaro. E onde sabores e odores só se completam ao som de Beethoven - a Bagatelle in A minor - , magistralmente executado pelo caminhão do Seu Edicleyton, o entregador de gás. Ambiciono voltar de lá com um MBA no assunto.


Enquanto isso, permanecem estas fotos de domingo, feitas na última cidade italiana de Valtellina, a caminho de St Moritz, na Suíça. Comida de taberna é sempre abundante, como a de botecos. E tem o toque de conforto doméstico na toalha de mesa xadrez. Faltou um tirolês tocando sanfona, mas quem liga? O menu completo?

* Tábua de frios ( presunto cru, bresaola, salame e coppa)
* Cogumelos Porcini
* Cebola agridoce
* Nhoque na manteiga, queijo e sálvia
* Grelhados de costelinha, linguiça, batata e polenta

E agora, com licença, devo fechar o caixa e deixar o boteco limpinho pra quando eu voltar.

"Gente, alguém pegou o Pinho Sol que deixei em cima do balcão?"

domingo, 21 de junho de 2009

Feliz natal junino!


Manhã de ontem, sábado, dia 20 de junho. Cena real.

Naquela longa e desordenada fila de supermercado, apenas um celular tocou, o que por si já foi um fato insólito. Era de uma senhora chinesa. E com um som inequivocável.

"Jingle bell, jingle bell... pi pi pi pirí...Hoje a noite é bela..."

"Plonto? Oh, buongioluno...si, si, no, no...va bene, glazie, alivederci."

Silêncio surreal. Vários pares de olhos interrogativos ficam suspensos no ar. No sense? Não, de tudo se faz um senso.

"Buon Natale"!, explodiram todos na fila, saudando com gestos efusivos entre sí, antes de dispersar-se felizes com seus carrinhos.

Antes de alcançar a rua, ainda ví um vovô abraçar seu neto, falando algo sobre Papai Noel.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

"Boquinha" 2

Detalhe da "Luxúria", na obra "Os Sete Pecados Capitais", de Hieronymus Bosch (1450-1516)

Taí a nossa vocação predatória por uma boquinha. Confirmada e reconfirmada diariamente nos jornais. Como as 7 mil vagas para novos vereadores, aprovadas esta semana pelo Senado para a festança dos suplentes no país.

Se cada vereador - ainda que seja de Cariri d'Oeste - empregasse "apenas" cinco amigos e parentes, já podemos festejar a queda de desemprego no país. Com um golpe de Montblanc, o Senado já garantiu 35 mil novos empregos vitalícios e outros tantos de empresas imunes à licitação.

A "boquinha" custa pouco no Brasil. Uma camiseta-brinde, um jeitinho para primos e tios num órgão público, dois quilos de feijão ou um passe-livre na alfândega. Tudo se barganha por ela.

Este final de semana vai ter tráfego de churrasquinho na laje pelo país. Alguns planejarão derrubar o puxadinho e projetar uma piscina em casa. Mulheres e amantes anexos de vereadores terão direito a roupas iguais às de novelas; as mais antenadas, uma fichinha na Daslu. O passo sucessivo dessa "contingência" é óbvio, a Câmara dos Deputados. Nada como garantir imunidade vitalícia que os igualem a divindades.

Os estrangeiros têm razão. Somos um povo alegre e feliz. Vivemos eternamente numa farra, à espreita de uma nova boquinha.