
Lendo uma crônica deliciosa da
Naomi , em que cita o nome daquele gracioso inseto peludinho verde-limão, de nome mandruvá, foi difícil dissociá-lo da simbiose com a goiabeira, de que tanto me acompanhou na infância.
Crescí em Môdi, - como o meu pai pronunciava a cidade de Mogi das Cruzes - onde viví meus melhores anos, de infância à adolescência. Minhas amiguinhas de casinha de outrora e belas senhoras de hoje, - Regina, Cristina e Tânia, - são lembranças indeléveis deste contexto.
Sobre o muro esquerdo, cobiçávamos as goiabas. E dos vãos da cerca à direita, as pitangas. As pitangas suculentas da Conceição, uma santa e solteirona - onde já se viu, com 29 anos e ainda não havia se casado - cuja mãe não permitia nem a sombra de um pretendente no portão.
Me pergunto quantos marimbondos nos perseguiram e quantos mandruvás nos queimaram cada vez que o pai do Roninho, um velho rabujento - "guardião" que apostava na vitória do usucapião - nos expulsava do terreno baldio como se já fosse seu.
Ainda hoje, o primeiro suco que eu tomo ao pisar o solo brasileiro é sempre o de goiaba. Há muitos sucos de
guava importados por aquí, mas nada se compara ao sabor da fruta amadurecida naturalmente num terreno baldio. E se são deformadas, com bichinhos dentro, colhidas diretamente dos pés dos vizinhos, o sabor se torna ainda mais especial.
* À Regina, amiga-irmã de quintais, rolimãs e sucessivas transgressões inenarráveis.