quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Astúcia sem fronteira


Com um pouco de intuição e mímica, fui compreendida pelo motorista de táxi em Istambul, na Turquia, de que a corrida era de emergência. Por um repentino problema intestinal com a minha companhia de viagem - que mal conversava comigo para evitar riscos inúteis - todo minuto seria precioso para chegar ao conforto de quatro paredes do hotel.

Mas creio que eu tenha lhe pedido demais, ao suplicá-lo que fizesse o percurso mais breve e evitasse ruas congestionadas para chegar ao destino, pois fizera o exato contrário.

Certamente o motorista não previu que eu não fosse, digamos, uma autêntica "japonesa-turista-fácil-de-levar-na-conversa-e-enfiar-a-faca-por-alguns-yens-a-mais", mas uma brasileira com certo know-how em malandragem tropical. Durante o trajeto, deixou se enganar pelo meu resguardo e silêncio quase monástico, já que não costumo jogar conversa fora com motoristas. É meu meio preventivo para evitar simpatia gratuita paga com trapaças. Se sabe, os turistas japoneses são potenciais vítimas nesse tipo de malícias em qualquer parte do mundo.

De fato, o motorista pegou as ruas mais disparatadas e distantes da cidade. Ao chegar à porta do hotel, eu lhe estendí a nota de 50 liras turcas para as 48 da corrida, algo em torno de 25 euros. Ao pegar o dinheiro, o motorista simulou descaradamente incompreensão, afirmando que recebera 5 liras, e não 50, que escondera rápida e furtivamente entre o maço de notas prontas para o troco. Só percebí o embuste depois que lhe dei outras 50 liras com mil sorries. Só não previu que eu também possuísse vantagem redobrada em insubordinação e rebeldia, adquiridas ao longo dos anos de sobrevivência em meio a astúcia "à italiana".

Ao me recusar a devolução de 52 liras, me transformei numa rumorosa Anna Magnani do cinema italiano e o ameacei a altos decibéis a denunciá-lo à polícia, debatendo-me na poltrona. Surpreso com a reação da turista 'ingênua', o motorista me devolveu rapidamente o dinheiro, e com um sorriso irônico no canto dos lábios, me deixou afundando o pé no acelerador.

Relatei este fato porque no sábado passado, me vi protagonista de um replay do filme turco, aqui em Milão. Ao acompanhar uma cliente ao seu hotel - enquanto conversava com ela apenas em japonês durante o trajeto - , o motorista tentou percorrer por ruas mais estranhas, confiante de que eu fosse uma turista. Ao final da corrida, ainda fingiu que não dispunha de troco de 8 euros. Obviamente recorrí à minha já tarimbada porção Anna Magnani. De novo.

6 comentários:

Paola disse...

Japonesa brasileira, morando na Italia, roda a baiana!
Adoro!
BJ

PAola

Anônimo disse...

Tambem adooorooo!

Rodou o kimono e arrancou as tamancas?

Quando entro em um taxi aqui meu coracao já começa a palpitar, em cada 10 corridas 8 são infartantes..

Tem taxista do ponto que se recusa a me transportar!

Anna

LuMa disse...

Paola:
Juro, mais que a tentativa de sugar o dinheirinho, o que me ofende mesmo é o de subestimar minha média inteligência,rs!

Anna:
Tem gente que confunde discrição e sobriedade com ingenuidade! Detesto fazer isso, mas há casos que eu rodo o kimono, ou me passo por trouxa. De motorista de taxi italiano, me incomoda tbém qdo querem falar, falar, falar, falar e falar pelos cotovelos, mas dou um desconto neste aspecto cultural,rs. Beijos.

Anônimo disse...

ADOREI LUMA, LENDO COMECEI A IMAGINAR A CENA!!!!HAHAHAHHA
TO CONTIGO!!!!
ADOOOORO TBÉM UM BARRAQUINHO DE VEZ EM QUANDO, AINDA MAIS COM RAZÃO!!!!BJUSSS

Anônimo disse...

oi Lu, pessoalmente j"me cansei de ser passada a perna, agora tb não deixo por menos e brigo mesmo,e com relação a nacionalidade vc, disse a verdade,não devemos confundir educação e descrição:com se fosse bobo. idiota,vc. está certissima parábens, beijos (diu)

LuMa disse...

Regina e Diu:
E qdo a gente pergunta o preço de algo pra um vendedor de rua e ele responde "Quatr....dez reais!",rs.