sábado, 6 de junho de 2009

Um a menos


Já morei no mesmo prédio do Bar Estadão, onde serve o histórico sanduíche de pernil, alí no viaduto 9 de Julho, em São Paulo. Foi uma acomodação provisória, por apenas quatro ou cinco meses, cedida por um amigo. Eram os anos 80.

De madrugada, quando a fome apertava, nada me fazia temer a violência noturna. Bastava apenas o elevador, para buscar aquela delícia em meio aos passantes da fauna paulistana.

Nem me lembro qual era o andar, mas do alto da minha janela, eu podia observar a avenida São Luís, tão curta quanto centenária, com maior número de quatrocentões por metro quadrado da cidade. Sem falar da Biblioteca Mário de Andrade, em estilo art-déco, em cuja praça, se acomodavam logo cedo os engraxates e vendedores ambulantes sob a imensa copa de sua figueira.

E ao lado, o histórico prédio da Gazeta Mercantil. De onde às 2 da madrugada, já se ouvia os furgões retirando das suas rotativas os primeiros exemplares, ainda quentes, para ganhar as ruas da cidade. Esta semana, leio que a Gazeta mandou às ruas o seu último número. Não resistiu ao tempo. Deixa de circular após quase 90 anos de existência.

Em simbiose com o sanduíche de pernil, o jornal - aquele em papel - , era um dos elementos que delineavam a feição de São Paulo de que mais gosto. A cidade que nunca para de trabalhar.

Algo mais foi subtraído da minha memória esta semana. É a crueldade do tempo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Lu, vç tbém morou no prédio da Major Quedinho?Tbém tenho muitas saudades dá época em que morei lá, tirando o sanduiche de pernil, tbém comíamos feijoada em plena 06:00hs da manhã, na mesma lanchonete, depois da balada!E eu que moro no Brasil nem estava sabendo que a Gazeta fechou, é uma pena!bjusss

LuMa disse...

Regina:

Lembra que foi o Jorginho quem me repassou o apartamento? Usufruí dos últimos meses antes de vencer o contrato dele. Fosfosol, Regina, fosfosol. Que tristeza ver um jornal acabar. É a morte das informações ímpressas...

PS: Feijoada às 6, só podia ser coisa da Família K. (rs)!

KS Nei disse...

E ali na São João que tinha o calabresa com mate com leite?

Morei 15 anos na Barão de Duprat, paralelo ao Mercadão da Cantareira.

LuMa disse...

É Nei, bons tempos, hein? Quer dizer então que vc morou no miolo do miolo de São Paulo? Não tem uma vez que eu não percorra essas ruas de que fala, qdo vou a SP. Bairros modernosos que me perdoem, mas a cidade se resume alí, mo centro, onde mora a alma do povo que a habita. Ainda hoje vou à churrascaria "Boi na Brasa", lá na Marquês de Itu, em vez de Jardins.

Me doeu muito saber do fim da Gazeta Mercantil. Vai-se um pedaço de São Paulo.