domingo, 15 de fevereiro de 2009

Ufanismo barato


Foto: Jornal O Estado de São Paulo


Apenas uma pequena observação. Sem nenhum caráter sócio-antropológico, histórico e outros ógicos.

O brasileiro é um animal emotivo. Com todas as conotações que possam conter no seu significado. O desejo de manifestar sua opinião precede o raciocício. Me refiro a vários casos que envolveram brasileiros fora do país, como o último, o da brasileira residente na Suíça.

Ao ler a notícia sobre Paula Oliveira esta semana, me assustei com reações furiosas de grupos de brasileiros que já estavam naquele preciso momento organizando uma passeata contra o racismo, enquanto sites, blogs e comunidades sociais já atiravam pedras por todos os lados. Especulações correram soltas, condenando os suíços de todos os males da Humanidade. Um revanchismo irracional que revela mais um recalque do vitimismo, no qual muitos brasileiros se ancoram. E se os lugares-comuns são alimentados por jornalistas incompetentes, a interpretação descamba da suposição à legitimação do fato. É muito fácil fulminar como racismo a despeito de incompatibilidade cultural.

Supõe-se que a civilização seja, antes de mais nada, a domesticação das nossas reações emotivas para evitar interpretações equivocadas. Não desminto o mal-estar de muitos brasileiros nos aeroportos internacionais. Que por nosso azar geo-histórico e político, temos modestas glórias a expor no exterior, com exceção do futebol. Nem nego que existam organizações xenófobas pelo mundo, mas é necessário separar o joio do trigo, como ocorre em todo o mundo, incluindo o Brasil.

Acompanho os jornais japoneses, sobretudo a situação dos 320 mil brasileiros residentes naquele país. Recentemente, houve manifestações em Tóquio e Nagóia por algumas centenas de brasileiros contra o sistema trabalhista japonês, chamando-o de 'racista' e exigindo para a comunidade moradia, educação e trabalho do governo japonês. E para dar um gás ao ufanismo barato, ergueram a bandeira brasileira ao vento, como únicas vítimas da crise que interessava indistintamente a todos. Aos trabalhadores japoneses, iranianos ou chineses. A consciência da cidadania - como impostos em dia e o respeitos pelos deveres sociais locais - deveria ser a premissa para o direito a reivindicações, mas disso esqueceram de denunciar durante as manifestações. Pudera ver ferocidade igual àquelas de Tóquio e Nagóia, mas desta vez dirigida ao governo brasileiro. Seria mais que legítima.

E apenas para precisar. Quantos de nós sabemos de estrangeiros assassinados no Brasil, vítimas de roubos e assaltos já a um passso fora dos portões de desembarque dos aeroportos? E quantos parentes de vítimas japoneses de assassinos brasileiros não aguardam inutilmente suas extradições do Brasil? Vivo na Itália, e não foram poucas as vezes em que os jornais locais estamparam mortes de seus turistas no Brasil, mas nem um parágrafo nos jornais brasileiros. Se cada país de origem destas vítimas reagisse com a mesma fúria com que muitos brasileiros demonstraram no caso de Paula Oliveira, certamente nenhum brasileiro passaria ileso nos aeroportos internacionais.

Todos somos potencialmente vítimas da ignorância humana. No nosso ou em qualquer outro meio. Ignorância ou incompatibilidade cultural nunca foi sinônimo de racismo. Pode chamá-lo discriminação, exclusão ou outros raios, mas serve apenas para dar vazão àquele ufanismo que alimenta a esquerda e a direita, segundo a conveniência.

7 comentários:

Unknown disse...

Bravissimo Luma.
Aqui no Japão tem brasileiros dizendo que a crise não existe, que é invensão dos japoneses pra tirar os brasileiros do mercado pra botar chineses e indonésios no lugar pois o salário deles é menor!!!`
É verdade que em muitos lugares neste país a população local não vê os brasileiros com bons olhos. Mas isso não é por racismo ou discriminação!!! Muitos brasileiros acham que podem viver aquí como se fosse o seu brasilzinho...fazendo baderna até altas horas, não separando o lixo e muito mais. Um pouco de civilidade e educação não faz mal a ninguem.

Paola disse...

Interessante, morei milhares de anos num condomínio de São Paulo muito procurado por estrangeiros, as grandes empresas tinham vários apartamentos para seus executivos, gostavam de lá pela segurança, pelas opções de laser.
Incrível é que todos os problemas entre vizinhos, todas as demonstrações de vandalismo eram provenientes doa estrangeiros, houve uma família expulsa do condomínio pelas barbaridades cometidas pelo filho do morador.
Aqui no Brasil vivemos algo semelhante, os nordestinos são excluidos, mas na verdade São PAulo não existiria se não fosse a força do Nordestino que literalmente mantém a cidade funcionando, não haveria prédio em pé, um restaurante aberto. Acho que os diferentes geram estranheza, insegurança, mas são necessários, Fico imaginando, se em São PAulo, todos os nordestinos de até terceira geração fossem expulssos, não haveia em São PAulo um único pedreiro, um único varredor, um único porteiro, assim seria em muitos lugares, acho que há uma miopia generalizada quanto a essa questão, ninguém sai do seu lugar por estar bem, ninguém vai ser imigrante para piorar!
Ai, sei lá , acho que é uma questõa que deve ser pensada em grande escala!

PAola (Bisneta de italianos, saídos das cidades de Lenagno, por cauda de uma inundação em 1890, e da cidade de Lucca, por fa;ta de trabalho na mesma época)
Sou brasileira de quarta geracão e nnao me sinto menos brasileira por isso.

Anônimo disse...

Purtroppo l'ignoranza porta a questo e altro
A volte è colpa dei mass media che inducono la gente a conclusioni errate che poi a loro volta ingigantiscono il problema.
In questo caso ,ma come in altri pensiamo subito che chi punta il dito per prima abbia ragione o sia la vittima,
invece la vittima è come al solito l'innocente che puntualmente paga per tutti.
Ottima riflessione
ciao
Gianluca

Anônimo disse...

luma, mais uma vez concordo plenamente com vç, como já morei em outro país sei exatamente o que quer dizer, se quero respeito, preciso em primeiro lugar respeitar e assim por diante.O brasileiro não é racista e sim preconceituoso. Nem sei se falei besteira kkkkkkkk bjussss

Kenia Mello disse...

E é justamente desse combustível, o ufanismo, que o governo atual se alimenta, além do clientelismo, claro.
E no final, ao que tudo indica, foi armação da moça. Ai, ai...
Beijo.

Anônimo disse...

ai q saudades da lady kamikaze...ela sim era descolada...

Anônimo disse...

vitimização. falou tudo e falou bonito. fiquei perplexa quando, ao saírem as primeiras notícias sobre a possibilidade de ser uma farsa, os jornais e alguns blogs radicais [e seus comentaristas] passaram a agredir a suíça e o povo suíço com argumentos como "ah, mas na segunda guerra eles fizeram isso e aquilo"... não reconhecem erros e não têm argumentação consistente, dá vergonha.