quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Imigrantes



A economia gerada por imigrantes no território nacional já representa quase 10% do PIB italiano e o número de novas empresas registradas por eles já totaliza 165 mil unidades, o triplo da última pesquisa de 2003. Antes mesmo que este número fosse contabilizado, as pequenas empresas de imigrantes recolheram em 2007 a impressionante cifra de 5,5 bilhões de euros em impostos ao governo italiano.

É o que emerge de uma detalhada pesquisa divulgada ontem, organizada por importantes entidades sociais e instituições bancária, comercial e industrial italianas. Para um país que ainda engatinha no convívio com estrangeiros e associa a imigração à delinquência, estes números podem calar os partidários do ultraconservador Liga Norte, que apoiam o atual governo Berlusconi. Vale lembrar que na última eleição, grande parte dos votos da população apoiou a política antiimigratória deste governo, cuja campanha, promovida com discursos inflamados, repetiu-se diariamente em todas as emissoras de TVs.

Com uma população de 57 milhões, dos quais 20% são idosos acima de 65 anos e com menor taxa de natalidade do mundo, qualquer equação para a sua futura economia é dispensável. Parte dos atuais 3 milhões de estrangeiros, cujo fluxo culminou nos anos 90 e que hoje trabalham regularmente para empresas italianas - numa miríade de profissões, do faxineiro a docentes universitários - contribui anualmente com 5 bilhões de euros para a previdência social, garantindo a subsistência do próprio sistema e a manutenção para mais de 10 milhões de aposentados e pensionistas do país. E pensar que são os idosos, os mais refratários aos imigrantes e potenciais eleitores de Berlusconi e aliados de correntes fascistas...

Da pesquisa, emerge também alguns aspectos culturais dos imigrantes e suas voacações comerciais. Das novas empresas, 65 mil estão na construção civil, administrados sobretudo por romenos e imigrantes do leste europeu. Seguem os chineses, que respondem por quase 11 mil empresas no comércio e manufaturas, sobretudo na indústria têxtil, de calçados e de confecções. Os marroquinos, paquistaneses e cingaleses se sobressaem no comércio, enquanto filipinos se prestam no setor de serviços.

Segundo uma pesquisa paralela levantada por Associazione Bancaria Internazionale, o que motiva o imigrante a obter um financiamento para abrir sua própria empresa é a ambição por uma condição que o equivalha àquela do cidadão italiano. De fato, resulta que seus salários correspondiam a 60% do empregado italiano, na mesma função.

Ainda que todos os números acima representem um incontestável benefício econômico local, visível a olho nú, a pesquisa conclui que a percepção dos diretos interessados - o Estado e a sociedade geral - ainda é quase nula.

Com um batalhão de jornalistas a seu serviço, divididos em 3 emissoras de TVs de sua propriedade e mais 3 emissoras estatais sob seus controles, Berlusconi promete cegueira por muitos anos ainda.


Um comentário:

Anônimo disse...

excelente post! dá sentido a estatísticas e toca num assunto sensível sem drama. parabéns!