
Num desses acidentes de percurso no You Tube, clicando aleatoriamente aquí e alí, me esbarrei dias atrás com um vídeo de Reginaldo Rossi. Aquele mesmo, o do "garçon", o exuberante cantor de música popular, que emanava sexo por todos os poros e por cima de suas calças de Tergal. O meu sorriso se iluminou, claro.
Passei meus finais de adolescência ouvindo programas populares de rádios AM. À exaustão. Tudo por conta de Luzia, a doce criatura que muito ajudou minha mãe e nas nossas tarefas domésticas. Ela nunca começava o dia sem sintonizar seu radinho azul de pilha, que a acompanhava por toda a casa. O radinho só emudecia mesmo era na hora do almoço, para nos dar um pouco de fôlego com o noticiário de tevê.
Eu vivia a minha fase de mineirismo trancafiada no quarto, mas o som externo de Luzia não me concedia tréguas. Seus robertoleais e gretchens prevaleciam sobre meus lôborges e venturinis. Mesmo sob todos os protestos, as tardes eram um monopólio de Luzia.
Após o almoço iniciciava o imperdível programa do 'lindão' Eli Corrêa. Aquele que saudava os ouvintes com o inconfundível refrão "Ooooooooooi, geeeeeeeentiiiiii", seguido de algum jingle. O seu público fiel não tinha ouvidos para os comerciais de xarope, palhinha de aço ou de sabão. Queria logo que o locutor rodasse suas dedicações com odairjosés e amadobatistas, os hits do momento.
Anos mais tarde, ao ingressar na faculdade, me ví realizando a fantasia que inundava as tardes de Luzia. Com frequência, esbarrava em alguns de seus ídolos nos elevadores da faculdade, em cujo edifício abrigava também o auditório da TV Gazeta. Cantores que já chegavam vestidos à caráter, com seus sapatos de plataforma e correntes de ouro, para ganhar alguns minutos de visibilidade fora do limitado ambiente de AMs. Também cantores anônimos, que dalí a pouco, seriam esquecidos nos palcos de churrascarias de estradas.
Os olhos de Luzia brilhavam a cada promessa minha, que acabei por não cumpri-la. A de acompanhá-la ao auditório daquele programa popular. É que logo em seguida, ela nos deixava para retornar à zona rural, onde viviam seus pais. Por culpa da gravidez de um malandro que não a merecia.