
Já morei no mesmo prédio do Bar Estadão, onde serve o histórico sanduíche de pernil, alí no viaduto 9 de Julho, em São Paulo. Foi uma acomodação provisória, por apenas quatro ou cinco meses, cedida por um amigo. Eram os anos 80.
De madrugada, quando a fome apertava, nada me fazia temer a violência noturna. Bastava apenas o elevador, para buscar aquela delícia em meio aos passantes da fauna paulistana.
Nem me lembro qual era o andar, mas do alto da minha janela, eu podia observar a avenida São Luís, tão curta quanto centenária, com maior número de quatrocentões por metro quadrado da cidade. Sem falar da Biblioteca Mário de Andrade, em estilo
art-déco, em cuja praça, se acomodavam logo cedo os engraxates e vendedores ambulantes sob a imensa copa de sua figueira.
E ao lado, o histórico prédio da Gazeta Mercantil. De onde às 2 da madrugada, já se ouvia os furgões retirando das suas rotativas os primeiros exemplares, ainda quentes, para ganhar as ruas da cidade. Esta semana, leio que a Gazeta mandou às ruas o seu último número. Não resistiu ao tempo. Deixa de circular após quase 90 anos de existência.
Em simbiose com o sanduíche de pernil, o jornal - aquele em papel - , era um dos elementos que delineavam a feição de São Paulo de que mais gosto. A cidade que nunca para de trabalhar.
Algo mais foi subtraído da minha memória esta semana. É a crueldade do tempo.