Não vou fazer rodeios. Somos uma nação bastarda que redundamos até nos sobrenomes extensos como um trem. Pronto. Mas tem o aspecto genético positivo nesse abastardamento - uma ressalva para não levar uma paulada - , que o pobre escrivão do cartório certamente não concordaria comigo. Haja espaço no formulário.
Um contador da esquina pode se chamar José Edicleyton Tapajós de Rego Pinotti Soares da Silva Schneider, mas o chamamos de Zé. E ninguém se lembra do resto. Mesmo a balconista da padaria onde tomamos um cafezinho pode carregar uma suposta linhagem de respeito, ou não se chamaria Marineide da Silva Ortiz Soares de Andrade Albuquerque Nakamura De Santis, a simpática Má. No máximo, Mara, para dar-lhe um pouco de consistência fonética e um mínimo de contrapeso à extensão.
O brasileiro só começou a se interessar por árvore genealógica da família por razões puramente migratórias. Para o efeito de vistos, se entende. E ainda, ganhou vantagens nisso. Com sobrenomes quilométricos - mesmo desconhecendo seus ascendentes, laços e nós cegos de tanta miscigenação - pode apostar em um dos cinco ou mais do que dispõe. Pode ser o visto para Portugal, Espanha, Itália, Japão, Nigéria e até para a nação Xingu.
Quem sabe o Silva que carrega tenha um remoto parentesco por parte do cunhado do tio-avô, que não assumiu a paternidade com a prima da auxiliar da cozinheira-chefe da corte da família Bourbon? E vai que o cônsul espanhol, antes de assinar o visto, identifique a linhagem do Silva, o mecânico do bairro, exatamente no período de domínio espanhol sobre os lusitanos e o coligue a Orleans? Pode vir à luz até um título nobiliar, com direito a herança para brigar, caso perca a oficina mecânica com a crise.
Mas o problema da busca pelos ascendentes não deixa de ser uma odisséia - dada a nossa precária formação escolar - , sobretudo quando devemos descobri-los num determinado contexto da História universal. Afinal, mesmo que a internet nos dê acesso aos tempos de Moisés para chegar à nossa genealogia, mal sabemos situá-la historicamente, já que ninguém se lembra nem menos o ano em que Tiradentes foi à forca sem recorrer à Wikipédia.
Nessa recente corrida por genealogia, descubro que no Brasil, onde vive a maior comunidade japonesa no mundo, revela uma singular estranheza. Ninguém tem um avô pedreiro ou pescador. Todos têm descendência de nobres samurais e de grandes senhores daimyo dos xogunatos que remontam ao período de Nobunaga. Falta descobrir os descendentes de Musashi e Naruto, mas tenho certeza que ainda os encontrarei nos interiores de São Paulo.
Eu? Segundo a minha mãe, parece que tenho algo a ver com o imperador Akihito. Sem falar da homônima indústria japonesa de motos da qual, com um bom advogado, eu possa talvez provar que tenho direito a alguns trocados de herança.
Um contador da esquina pode se chamar José Edicleyton Tapajós de Rego Pinotti Soares da Silva Schneider, mas o chamamos de Zé. E ninguém se lembra do resto. Mesmo a balconista da padaria onde tomamos um cafezinho pode carregar uma suposta linhagem de respeito, ou não se chamaria Marineide da Silva Ortiz Soares de Andrade Albuquerque Nakamura De Santis, a simpática Má. No máximo, Mara, para dar-lhe um pouco de consistência fonética e um mínimo de contrapeso à extensão.
O brasileiro só começou a se interessar por árvore genealógica da família por razões puramente migratórias. Para o efeito de vistos, se entende. E ainda, ganhou vantagens nisso. Com sobrenomes quilométricos - mesmo desconhecendo seus ascendentes, laços e nós cegos de tanta miscigenação - pode apostar em um dos cinco ou mais do que dispõe. Pode ser o visto para Portugal, Espanha, Itália, Japão, Nigéria e até para a nação Xingu.
Quem sabe o Silva que carrega tenha um remoto parentesco por parte do cunhado do tio-avô, que não assumiu a paternidade com a prima da auxiliar da cozinheira-chefe da corte da família Bourbon? E vai que o cônsul espanhol, antes de assinar o visto, identifique a linhagem do Silva, o mecânico do bairro, exatamente no período de domínio espanhol sobre os lusitanos e o coligue a Orleans? Pode vir à luz até um título nobiliar, com direito a herança para brigar, caso perca a oficina mecânica com a crise.
Mas o problema da busca pelos ascendentes não deixa de ser uma odisséia - dada a nossa precária formação escolar - , sobretudo quando devemos descobri-los num determinado contexto da História universal. Afinal, mesmo que a internet nos dê acesso aos tempos de Moisés para chegar à nossa genealogia, mal sabemos situá-la historicamente, já que ninguém se lembra nem menos o ano em que Tiradentes foi à forca sem recorrer à Wikipédia.
Nessa recente corrida por genealogia, descubro que no Brasil, onde vive a maior comunidade japonesa no mundo, revela uma singular estranheza. Ninguém tem um avô pedreiro ou pescador. Todos têm descendência de nobres samurais e de grandes senhores daimyo dos xogunatos que remontam ao período de Nobunaga. Falta descobrir os descendentes de Musashi e Naruto, mas tenho certeza que ainda os encontrarei nos interiores de São Paulo.
Eu? Segundo a minha mãe, parece que tenho algo a ver com o imperador Akihito. Sem falar da homônima indústria japonesa de motos da qual, com um bom advogado, eu possa talvez provar que tenho direito a alguns trocados de herança.
11 comentários:
So desu!
Meus avos Schimada sao de Chiba ken, camponeses. O Sc do nome foi um erro desde o porto de Santos, acho.
Minha avo Okamura chegou no Brasil em 1933 com 7 anos, vindo de Hakodate, Hokkaido. Filha de camponeses.
Meu avo Ueda, casado com a Okamura, era de Osaka, esse sim, um japa urbano.
Samurai? Shimada? Ueda? Com TA de tan-bo no nome? Usso bakari!
Matta kondo!
PS. Pra quem nao sabe um pouco de historia, os samurais que eram proximos ao trono no final do seculo XIX, mantiveram-se numa certa ordem, uma casta, e hoje sao o "baixo clero" da politica japonesa, do municipio ao estado.
OI LU,chutaste o balde menina,(rsrsrs)ontem vendo o blog da Neide (come-se) chorei hoje estou dando boas risadas,e mais adoro Naruto Leio o Manga, e assisto pela internete,acho que este, negócio de nomes longos era para se dizer importantes igual a fotos de antepassados da familia, tem novo rico que compra fotos, em feira de antiguidades, pior sou eu que não sei de onde vim nem pra onde vou (rsrsrsrs). bjs.(diu)
Li no livro Raizes do Brasil do historiador Sergio Buarque de Hollanda (acho que foi nesse livro hehehehe) que o brasileiro tem a mania de abreviar os nomes( Zé, Ma , Dudu, Fafa etc) e usar e abusar dos diminuitivos, tudo por causa da nossa cultura que nao é muito ligada as formalidades. Tudo é bonitinho, lindinho etc e todo estranho vira amigo depois de 2 min. de bate papo.
Enquanto a genealogia, nunca me interessei em saber de quem eu sou bis ou trisneta. Acho que é porque nunca pensei em vir para Europa.
Ehh Luma. Que prazer ler os seus textos. Eu estava de férias e fiquei longe da internet por uns dez dias. A gente fica quase doido. Voltei ávido por ela - a internet. Cheguei ontem à noite e hoje já li todas as suas últimas postagens. Aquela do rapaz no trem é fantástica (Que figura heim? E como tem gente assim)E sobre os nomes curiosos e inusitados, parece que aqui no Brasil tá cada vez pior. Isso se dá em todo o canto. Estive em Natal-RN de férias. É cada nome que você não faz idéia. Brincava com o meu tio dizendo que, quando os nordestinos descobrirem o teclado da internet, vai virar um festival de 'Delete' (aliás, a dona da pousado onde fiquei disse que conhece uma pessoa com esse nome), Capslock, Scroll Lock, Shift. E ainda brinquei: Já pensou a mão chamando: Underline, Hotmail, onde estão vocês!? Um abraço
a MÃE dizendo
Nei:
No Brasil, estranhamente ninguém 'descobre' ascendentes corsários, marujos e criminosos degredados abandonados nas praias por naus e piratas,rs.
Diu:
Olha lá que, com um pouco de paciência, a gente descobre algum descendente do igualmente ilustre Pokemon :)
Karine:
Os sobrenomes brasileiros são tão extensos que os jogadores de futebol fazem bem, facilitando a vida dos locutores estrangeiros. Todos se chamam Didi, Kaká, Binho, Du ou Mano.
Fabrício:
Bom retorno ao trabalho! Pois é, chego a pensar que o espaço reservado nos formulários brasileiros deva ser largamente ampliado, pois não há lei que limite o acréscimo de sobrenomes no país,rs. Não sei o que é mais bizarro, se Delete ou Britney Shakira da Silva,rs.
Lembrei do Armstronguinho que corria pelado com barriga inchada de lombriga, descalço pelas ruas de terra do meu antigo bairro.
Anna
Anna:
A minha interrogação é com sobrenome quilométrico, e fico pensando nas abreviações que deve fazer num espaço estreito de formulários, por exemplo. Do tipo José B.P.C.M.Q.da Silva. * E vai explicar isso num país anglo-saxão, se eles entendem...
* Armstronguinho é maldade, tadinho...
desculpa mas lembrei que as pessoas que geralmente fazem regressões, foram principes, princesas, reis e rainhas, talvez, hoje estejamos pagando por isso, rs bjk.
Maker:
Se eu fizer uma hipotética regressão, quero ser mais criativa e me atribuir linhagem com a mitológica Gaia, a mãe primordial de tudo,rs. E que ninguém venha me dizer que tenha ascendência anterior a ela, pois antes, havia apenas o Caos!
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