terça-feira, 27 de outubro de 2009

Pantanal e a cabeça de boi


Numa dessas incursões pelos sites gastronômicos, encontrei a receita de sopa de piranha, cujo irresistível sabor me evocou a primeira viagem ao Pantanal. Bem lá no início dos anos 80, quando ainda era estudante. Viagem em três, com duas pimpantes amigas mochileiras - hoje comadres com dores lombares - , dispostas a muitas renúncias por uma aventura. Com exceção do ar-condicionado e bons cremes para o sol. Para elas, e não para mim.

A viagem iniciou com a eletrizante expectativa pelo famigerado "Trem da Morte", com intenção de tocar a porta de Bolívia. Só não avançaríamos o além-fronteira porque a contenção do nosso bolso impedia. A lenta travessia ferroviária pelo Pantanal correu como previsto: muita emoção com tuiuiús, jacarés e tucanos vivos, coisas que só a National Geographic sabe descrever.

Mas para quem deixara São Paulo e a excitação de sua periferia(de paura) para trás, os passageiros do 'Trem da Morte' sugeriam tudo, menos a morte. Talvez esperássemos mais lumpens, forasteiros e até criminosos naqueles vagões, que alimentassem o nosso fértil imaginário.

Contudo, a nossa acomodação em Corumbá se revelou muito mais palpitante que o suposto risco de vida naquele percurso ferroviário. Passeios nos rios, fazendas a explorar, dolce far niente parasitário e muito leite ordenhado na hora. Leite com conhaque logo de manhã, para minutos depois, nos fazer correr atrás da primeira vegetação fechada.

E, claro, um churrasco inesquecível na casa dos amigos de Corumbá. Um boi assado inteiro, espetado numa tora. Nada comparado ao que os paulistas imaginavam ser um churrasco. Os amigos matogrossenses nos foram extremamente gentis; e para honrar a tradição do bom anfitrião, nos ofereceram o que há de mais primoroso na tradição gastronômica local. A cabeça inteira daquele boi assada. Com tudo em cima. Couro, pelos malhados, olhos, dentes e supostas babas de ervas regurgitadas pelo ruminante. Sabor divino que só os vaqueiros sabem apreciá-lo, de fato.

Sua carne é deliciosa, - sobretudo aquela das maçãs do rosto - ainda que permaneça na boca aquele retrogosto de pasto e estrume de vaca. Minhas amigas - com inútil tentativa de escamotear sobrancelhas franzidas - também souberam honrar a boa educação perante os anfitriões, mas com muitos goles de cerveja para mandar as garfadas goela abaixo. Elas não deixaram a peteca cair, e cheguei a entrever na penumbra brilhantes gotas de lágrimas caírem do canto de seus olhos, enquanto mastigavam os nacos de carne. Era o ápice de uma felicidade forçada.

Com muita nostalgia, ainda nos lembramos da viagem quando nos encontramos. Será a nossa idade, mas centralizamos sempre a conversa nos sabores que ficaram daquela aventura, em vez do trem, que se revelou bastante ordinário. Dos peixes fritos que meninos de vilarejos vinham nos vender da janela do trem na parada de Aquidauana, da sopa de piranha que tomamos à beira do rio Paraguai e de águas de coco necessárias para o escaldante mês de fevereiro.

Muitos anos depois, retornei ao Pantanal. Mas a emoção era empacotada, com todos os serviços incluídos. Nada que pudesse me emocionar como aquele Pantanal que descobríamos por nossa conta.
* À Anninha, cuja existência não faz o tempo passar.


domingo, 25 de outubro de 2009

Churrasco Virtual


Não resistí à tentação de publicá-la. Já devo ter clicado esta foto ao menos 300 vezes. Depois, quando não contenho mais a salivação, eu a guardo desconsolada, de volta ao meu arquivo de fotos.

Esta megachurrascada num sítio - a convite de uma amiga quatro anos atrás - , emudeceu o único italiano presente entre os devoradores. Diante da obra divina, ficou alguns segundos alí, imobilizado, teletransportado para uma dimensão celestial. Extasiado, cobriu o rosto com as duas mãos, para murmurar apenas "mamma mia... , mamma mia..., mamma mia.... Naquela 'mamma mia' estava subentendida a expressão universal para o orgasmo múltiplo.


À espera de uma próxima oportunidade, nos consolamos com este minguado 'franguinho à passarinho' domingueiro. Como é duro retornar ao purgatório depois de uma subida ao paraíso.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Hopper, o observador do ordinário

Pôr-do-sol em Cape Cod, de 1934

A chuva e o frio tentaram me impedir, mas não havia ocasião melhor que ontem para ir à mostra de Edward Hopper. Numa quinta, evita-se visitas guiadas de estudantes. Com a chuva, menos visitantes casuais. E menos incivilizados que se põem à nossa frente para monopolizar a apreciação dos quadros.


Sol da Manhã, de 1952
Sou incapaz de fazer uma resenha, mesmo descritiva. Nem pensar, se a presunção se referir à arte. Tenho profunda consciência da limitação dos meus recursos. Tenho um pesado livrão de Hopper, da Taschen, com biografia e obras completas que estou sempre a namorar em casa. Mas ele apenas me instrui, pois a liberdade de interpretá-lo diante de uma obra viva é sempre individual. Pessoalmente, mais que a interpretação, me basta a sensação, e quase sempre ela morre comigo. Nada feito. Para uma resenha decente, - e serão milhares por aí - há o Google grátis, à disposição de todos.

Conhecí, em primeira pessoa, o vazio que a depressão provoca à alma humana. Talvez por isso, foi inevitável não me reconhecer nas representações de Hopper. O mal da desolação, melancolia e sensação de estagnação da vida já lhe era contemporâneo na Nova York das primeiras décadas. Ele apenas as retratou com minuciosa observação a iluminação daquele panorama ordinário.

Se sabe, suas paisagens rurais e urbanas são sempre desertas, privas de figura humana. Sua importância é secundária e a não-expressão desta presença a cancela de algum significado na obra. Uma ambientação quase noir, como escreve o próprio curador da mostra. Como a figura feminina sentada sobre a varanda ou aquela sentada sobre o leito, de frente à janela, ambas que observam o nada. E há a casa de veraneio, estação ferroviária ou o posto de gasolina, todos desertos. O que essencialmente inquieta o observador é o vazio.


Célebre Aves da Noite (ou Notívagos), de 1942, ausente à mostra milanesa.
Infelizmente, a mostra de Milão não trouxe as obras mais célebres como a Aves da Noite (ou Notívagos), Gasolina e a Casa na Ferrovia (a que inspirou Hitchcock no Psicose), mas apenas seus numerosos rascunhos. Mas nada que desfalcasse a satisfação. Outras 170 obras me fizeram imergir completamente, por inteira manhã, no estranho mundo da incomunicabilidade.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Revista Seleções e a infância

Norman Rockwell

A pouco mais de cem metros da minha casa fica o prédio onde até dezembro de 2007 sediava a editora italiana da revista Reader's Digest, a Selezione. A versão italiana antecipou de dois anos a bancarrota que a matriz americana está para anunciar, depois de 77 anos de história. Está em vermelho astronômico de 2,2 bilhões de dólares. Apenas no mercado americano.

Da janela do meu quarto posso avistar o prédio, hoje ocupado por outras empresas. E ao abri-la, é inevitável não me recordar de sua edição brasileira e da minha infância. Infância cujo período era a cavalo entre o final dos anos 60 a meados de 70. Sou caçula de muitas irmãs, de cujas leituras incluía a revista Seleções. A pequena revista se movia pela casa, ora no banheiro, ora no sofá, para quem quisesse folheá-la.

Tratando-se de tradução americana, a revista era de fato um compêndio condensado da doutrina americana no combate à ameaça soviética. Com acesas propagandas anti-comunistas, - como a seção "Conversas na Caserna" - , razão porque a revista era certamente classificada como 'reacionária' por aqueles brasileiros que combatiam a ditadura militar de então.

Longe de ser reacionárias, minhas irmãs eram assíduas leitoras de suas dietas, biografias de personagens célebres, sinopses de alguma nova descoberta científica ou resumo de um romance. Mas, sobretudo, devoravam os imperdíveis aforismos nos rodapés de suas páginas. Quase sempre muito moralistas e patrióticos, que enalteciam o modo de vida americano. Com seus cortadores de grama, halloweens, disciplinas militares e coisas que eu nunca os havia ouvido falar.

Tendo apenas 11 ou 12 anos de idade, eu me concentrava mais nos rodapés, cada vez que elas chegavam da banca com a nova edição. Eu corria para ler primeiro a "Pausa para o Café", seguida de aforismos e piadas.

Foi também nesta revista que me encantei, pela primeira vez, pelas pinturas de Norman Rockwell, quem ainda o associo àquela revista. Minha primeira 'paixonite' por algum pintor, talvez. Mas colecionava também minhas leituras infantis, a revista Recreio e os fascículos da enciclopédia Disney, enquanto me entupia de dadinhos Pingo de Leite naquele velho sofá vermelho.

Só me distanciei da revista Seleções por volta de 73 ou 74 - sempre por tabela - , quando minhas irmãs já haviam diversificado suas leituras entre as revistas Planeta e a musical Pop, para disperdê-la completamente nos anos sucessivos.

Afinal, a tevê em cores estava para chegar ao nosso lar. Mas não sem antes ter comprado aquela folha plástica em três faixas de cores - azul, vermelho e verde, se não me engano - que colávamos no aparelho para fingir que já dispúnhamos de cor. Estávamos sob o governo Médici, e eu nem sabia o que fosse uma ditadura militar.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Roda de botocadas


Não. Nenhum batuque.

É que passei ontem pelo quadrilátero milanês de luxo e moda, a zona Montenapoleone, onde se observa o maior número de passantes botocadas e siliconadas por metro quadrado do país. Não, nada contra o botox. Ao contrário, o que dizer da santa invenção? A toxina parece ser benéfica na cura de enxaqueca, de próstata e até fez um australiano caminhar após sua aplicação!

Sou apenas um pouco reticente com os lábios exageradamente 'intumescidos' - taí um adjetivo que só leio em contos eróticos - na escolha extrapolada de algumas mulheres como as que ví ontem. Lábios muito 'capientes', para estar no tema. A lambusagem dos lábios - com o batom, naturalmente - neste bairro de boutiques não se restringe apenas às clientes e passantes. Contaminadas pela vaidade, muitas balconistas que lá trabalham não medem esforços para igualar-se a elas. Sabe-se lá com quanto sacrifício. Aquí ainda não chegou a cirurgia estética paga à prestação.

Lá, é fácil esbarrar-se com exuberantes donatellaversaces, quase todas em idades entre 40 e 50 anos. Mesmo no inverno, estão sempre 'alaranjadas' pelo bronzeado de lâmpadas. Ao passar por uma roda de mulheres, ouví conversas com pronúncias tão sibilares que suas palavras se tornavam ininteligíveis, tamanha dificuldade com os lábios recém-cicatrizados. Deixei rapidamente aquele perene red-carpet para trás, assustada também com a minha maldade.

De volta à realidade brutal do sacolejo do metrô, comecei a pensar, seriamente. Está na hora de eu largar aqueles cremes baratos, comprados em supermercados. Acho que chegou a hora de eu investir em creminhos um pouco mais custosos.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Aristocracia

Domingo de comes-e-bebes num magnífico casarão de veraneio de um conde, cuja linhagem da família herede remonta ao século 12.

Ao conhecer suas dependências internas, compreendemos a opulência com que os nobres gozavam na Idade Média. Será este casarão, resultado de uma das tantas indulgências concedidas pela Igreja, com títulos nobiliares em troca de benefícios financeiros que tanto enriqueceram o Vaticano?

Preferí me abster de tantas perguntas inúteis, afinal era uma festa. Estes panoramas serviram apenas de moldura à festa de casamento de uma amiga, ontem.
Uma cara amiga que escolheu este lugar para um singelo 'sim'. E elevou de um ponto percentual na escarsa estatística de casamentos no país.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Luzia e seus ídolos


Num desses acidentes de percurso no You Tube, clicando aleatoriamente aquí e alí, me esbarrei dias atrás com um vídeo de Reginaldo Rossi. Aquele mesmo, o do "garçon", o exuberante cantor de música popular, que emanava sexo por todos os poros e por cima de suas calças de Tergal. O meu sorriso se iluminou, claro.

Passei meus finais de adolescência ouvindo programas populares de rádios AM. À exaustão. Tudo por conta de Luzia, a doce criatura que muito ajudou minha mãe e nas nossas tarefas domésticas. Ela nunca começava o dia sem sintonizar seu radinho azul de pilha, que a acompanhava por toda a casa. O radinho só emudecia mesmo era na hora do almoço, para nos dar um pouco de fôlego com o noticiário de tevê.

Eu vivia a minha fase de mineirismo trancafiada no quarto, mas o som externo de Luzia não me concedia tréguas. Seus robertoleais e gretchens prevaleciam sobre meus lôborges e venturinis. Mesmo sob todos os protestos, as tardes eram um monopólio de Luzia.

Após o almoço iniciciava o imperdível programa do 'lindão' Eli Corrêa. Aquele que saudava os ouvintes com o inconfundível refrão "Ooooooooooi, geeeeeeeentiiiiii", seguido de algum jingle. O seu público fiel não tinha ouvidos para os comerciais de xarope, palhinha de aço ou de sabão. Queria logo que o locutor rodasse suas dedicações com odairjosés e amadobatistas, os hits do momento.

Anos mais tarde, ao ingressar na faculdade, me ví realizando a fantasia que inundava as tardes de Luzia. Com frequência, esbarrava em alguns de seus ídolos nos elevadores da faculdade, em cujo edifício abrigava também o auditório da TV Gazeta. Cantores que já chegavam vestidos à caráter, com seus sapatos de plataforma e correntes de ouro, para ganhar alguns minutos de visibilidade fora do limitado ambiente de AMs. Também cantores anônimos, que dalí a pouco, seriam esquecidos nos palcos de churrascarias de estradas.

Os olhos de Luzia brilhavam a cada promessa minha, que acabei por não cumpri-la. A de acompanhá-la ao auditório daquele programa popular. É que logo em seguida, ela nos deixava para retornar à zona rural, onde viviam seus pais. Por culpa da gravidez de um malandro que não a merecia.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O bom milanês


Aprecio muito o verdadeiro cidadão milanês, com sua inata discrição e sobriedade. Eles são poucos em Milão. Avesso a frugalidades e rodeios de palavras, a sua aparente indiferença com vizinhos é muitas vezes confundida com esnobismo, mas são os aspectos desse italiano profano que mais me faz sentir à vontade.

É verdade que a mentalidade milanesa nem sempre agrade aos italianos de outras regiões, ao fulminá-la como 'fria' ou 'individualista', para engrossar a lista dos lugares-comuns. São certamente atribuições superficiais sem nenhum ranço, que todos os centros urbanos, industriais e financeiros recebem em comum, cada qual nos seus confins. Eu as corrijo como pragmática e sensata, que preza a sua individualidade sem descer no individualismo. Um bom milanês, em poucas palavras, não se vale de retóricas e nem se esforça a recolher belos adjetivos para sí.

Pessoalmente o meu critério de simpatia nunca se baseou na alegria ou no sorriso de um povo. Prefiro a direta sinceridade e disciplina do cumprimento de palavras a profusão de alegria e eloquência evasiva. Abraços efusivos e risadas em altos decibéis conquistam apenas nossas impressões imediatas, o que nem sempre se traduzem em respeito. Suspeito sempre dos superlativos.

Estendo esta mesma impressão dos milaneses aos japoneses de Tóquio, que por razões profissionais mantenho maior contato que das demais cidades japonesas. Não porque a cidade seja mais rica, afluente e cosmopolita do Japão. Me refiro ao velho e bom japonês dos tradicionais bairros de Tóquio, que por razões que só culturas antigas são capazes de manter naquele vórtice humano, ainda conserva com sobriedade os bons princípios de usos e costumes nas relações humanas. Tudo isso com o devido respeito e distância.

Financeiramente, meus clientes de Tóquio nunca renderam alguma vantagem significativa para o meu bolso. Com algumas exceções, quase todas as transações comerciais com eles foram bastante modestas, de dimensão humana, suficientes para eu pagar minhas contas e impostos. Em contrapartida, tive muitas compensações com eles. A certeza da relação duradoura e contínua, baseada na confiança recíproca de palavras. E nem sempre ditas. Ao longo dos anos, muitos deles mudaram de setor devido à crise, mas ainda mantemos relações cordiais como se nada tivesse mudado.

Será uma casualidade, mas não obtive a mesma satisfação com alguns profissionais de Osaka, cidade igualmente grande, cuja cultura se distingue dos demais japoneses pela grande desenvoltura e uma escancarada alegria. A antítese de Tóquio, em tantos aspectos. Com eles concluí vários furos na água, após entusiasmantes trocas de cartões de visita, muitos souvenirs de presente e promessas em pompa magna de grandes negócios juntos. Palavras. Simplesmente palavras.

Falei disso tudo apenas porque levei a enésima paulada na cabeça ontem, de um novo fornecedor de uma profunda região italiana, com um dos índices mais elevados de desemprego do país, conhecida também pela sua alegria e de "gente che sa vivere". No trabalho, pouco me importa a alegria; me interessa é o peso da responsabilidade.

Bem que eu havia desconfiado da excessiva simpatia e falação durante os ricos jantares antes do contrato. Iniciou com delongas na entrega de pedidos, desculpas esfarrapadas e despudoradas atribuições de culpa a terceiros. Até o cancelamento aleatório do pedido, sem nenhum aviso prévio. Mas não um pedido de desculpas. O meu cliente japonês ficará desfalcado da coleção de calçados este ano.

Seis meses de promessas para acabar com um furo na água. Viver com alegria sim. Viver de alegria, só os humoristas.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Boteco privée da Luma - Menu 4

Retomei o bom astral.

Voltei radiante de uma visita cardiológica ontem. Se sabe, a esta altura da segunda idade, o receio de que o médico me corte o vinho e a comidinha de que tanto gosto é atroz, de tirar o sono. A abnegação na gula deve ser um daqueles casos mais trágicos que um ser possa suportar. Enfim, após uma enervante espera, o resultado diz que o meu coração está tudo em ordem, e voltei feliz para sempre.

Para festejar, reabrí o meu boteco privée. Claro, é uma traição imperdoável com o meu cardiologista, preparando logo estes camarões fritinhos, provenientes do Pacífico, das águas tailandesas. Versão bem mais barata que os camarões do mar saqueado, explorado e saturado do Mediterrâneo.


E tem estas anchovetas cruas, presentes ao menos a cada quinzena sobre a minha mesa, temperadas apenas com sal, limão siciliano, pimenta-do-reino e azeite extra-virgem. E estas não têm contra-indicações. A prova disso é que os seus maiores devoradores, na região de Puglia - bem alí no salto da bota - , vivem com muita saúde.

Confesso, renuncio ao sashimi e wasabi de qualquer peixe por estas anchovetas cruas, cujo sabor do mar nos enche de alegria por todo o céu da boca, até chegar ao nosso cérebro. E tudo acompanhado por um vinho branco comum da região de Marche; nada de especial, mas de boa qualidade e com a garantia de um IGT, - Indicação Geográfica Típica. O vinho me custou apenas € 2,15 a garrafa.

Com a garantia do resultado médico, sei que o meu boteco privado seguirá em frente, e por enquanto, não se prevê nenhum risco de falência.