quinta-feira, 30 de abril de 2009

Corujice


Momento doméstico de paz. Me deleito com o profundo sono desta princesa, a Miss Universo.
Já passaram as pobres vacas, as galinhas, e agora, os porquinhos. Que não venham inventar um vírus de gato, ou viro uma leoa!

terça-feira, 28 de abril de 2009

Byta paciência


O meu pc está no conserto desde domingo. Tive que reativar o notebook esquecido no armário, enquanto o titular não volta.

Se devo fazer uma comparação, o pc titular está para Rambo, e o notebook para Rimbaud.

O musculoso é potente e veloz, e se move na selva a uma velocidade da luz. Basta o meu comando.

Já com o problemático Rimbaud, estou redescobrindo a pecepção do tempo. É inconformado, intrigante e transgressivo. Mas 20 minutos só para acendê-lo! E 5 minutos apenas para abrir uma página, já é demais!

sábado, 25 de abril de 2009

Verde-amarelo, e daí?

Mesmo fora do período de Copas, é comum ver brasileiros no exterior vestidos literalmente de verde e amarelo. Se as cores não são alusivas à seleção, exibem algo que os faz enaltecer, como estampa que remeta a Ayrton Senna ou frases como "A Amazônia é nossa" e "I love Rio". Eu os vejo nas filas de embarque e nas ruas, mesmo fora do contexto esportivo, bem ao limite do embaraço.

Me pergunto sempre de onde vem essa necessidade de afirmação contínua de brasilidade fora do país. É claro que para muitos é apenas um modo espirituoso e galhardo de declarar-se turistas, uma categoria universal que, por ser apenas um passante, está imune a qualquer referência depreciativa do país de origem. A menos que o comportamento os denuncie.

Confesso que tenho muitas reservas a este comportamento verde-amarelo em certos meios. Além de tocar o limite do provincianismo e o ufanismo exacerbado - e eles estão intrinsecamente ligados - revela escancaradamente a dissimulação da própria debilidade como cidadão do mundo.

Ora, nunca vejo indianos, suecos, japoneses ou mexicanos que vivem no exterior vestindo literalmente suas bandeiras, se não no período da Copa do Mundo, pois não necessitam gritar ou reafirmar ao mundo as próprias glórias. Nem o norte-americano branco, republicano, anglo-saxão se vê por aquí, vestido de bandeira nacional. Até porque sabe que poderá levar pedradas. Há o bom-senso de praticá-lo apenas dentro de casa, em vez de causar hostilidade local.

Não há nada que criminalize uma bandeira nacional, mas levantada num contexto ou num momento inadequado pode sugerir equívocos com a ignorância presunçosa. Como aquelas passeatas no Japão, por brasileiros desempregados. Não há nada mais deprimente que a auto-comiseração levantando uma bandeira, como fosse uma causa nacional.

Me veio em mente escrever estas linhas ao ler inúmeros comentários de trabalhadores brasileiros num jornal de língua portuguesa no Japão, baixando a lenha nos japoneses e portugueses, com piadas de extremo malgosto. Enalteciam a suposta supremacia da legislação trabalhista e 'qualidade de vida' brasileiras em relação a estes países; e ainda, os acusavam de racismo por encontrar-se vítimas daquela crise global. Vítimas do descaso do próprio país, o Brasil, preferem apontar o dedo aos problemas alheios. E na falta do que dizer, levantam uma bandeira.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Vertigem


Minha pressão arterial subiu até 16 por 11 nestes últimos dias. São surtos que me espantam a uma média de duas vezes ao ano, mas com controle e remédios, desaparecem como nada fosse. Que coisa, o meu peso quanto a alimentação é absolutamente normal.

Tive duas ocasiões de grande paura por um colapso. A primeira, com apenas 21 anos, pressão nas estrelas e vertigem que mal me sustentava em pé. Por coincidência, no dia de exame de uma maldita depê. Subí engatinhando aquela imensa escadaria da Gazeta sob olhares curiosos. Era a última chance para me livrar do mestre Gaudêncio Torquato, o terror da faculdade. E não é que conseguí? Com a nota mínima, mas sayonara, Torquato.

A outra, eu caí como um saco de batata no chão. Em frente à boutique Salvatore Ferragamo, em pleno quadrilátero da moda milanesa. Fui imediatamente socorrida e levada ao pronto-socorro pelos clientes e milionários que alí passavam. Desde então, descobrí que as peruas e fashionistas também são solidárias.

Por uns 10 dias, nada de vinho, tsukemono, aringa defumada, café e outras coisitas de que gosto. Dez dias sem vida, em poucas palavras.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Fuga da cidade


Repouso de Baco

Casoncelli: massa recheada de carne, temperada com manteiga e sálvia.

Estivemos neste fim de semana na região de Franciacorta, em Brescia, a cerca de 80 quilômetros de Milão (sentido Veneza). Marcada por pequenas colinas de vinhedo e adegas abertas ao público, Franciacorta é conhecida sobretudo pelos vinhos espumantes, ainda que produza também - em menor escala - vinhos branco e tinto como Chardonnay, Pinot branco ou Merlot.

Sob um friozinho inesperado de 12 graus e um chuvisco insistente, logo nos refugiamos no calor do restaurante, após uma visita guiada pelo proprietário da vinícola. Comidinha simples mas boa, bem à moda rural.

Preferimos o menu completo a a la carte, que consistia em tábua de frios e picles; polenta com gorgonzola e toucinho; linguine e casoncelli como pasta; carne bovina cozida no vinho e rosbife, com acompanhamentos de espinafre e rúcula. Tudo com vinho tinto, branco e água à vontade. Para finalizar, um docinho e um café e tudo saiu por apenas 30 euros por pessoa.

Nada como fugir de Milão, para comer um BBB num refúgio rural. Bom,bonito e barato.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Santa Livraria

Esta livraria é um daqueles lugares em que mesmo contra todas as regras de contenção destes tempos negros da crise, as minhas pernas se direcionam sozinhas, sem consultar a carteira. Ao menos uma vez a cada quinzena, para evitar coceirinha nos pés.


Ainda que o letreiro não indique, certamente há uma política de negócios semelhante a uma ponta-de-estoque. Portanto, nem sempre é possível encontrar títulos que procuramos, mas permite uma imersão no universo de cultura de alto nível a pouco preço. De livros de arte, pintura, literatura, fotografia, viagens, arquitetura, filosofia e outros mil e um argumentos. É impossível sair de lá sem ao menos dois livrinhos na sacola.


Hoje comprei estes dois livros, de Goethe e Chekhov, por apenas €3,90 cada um. Apenas como parâmetro, o valor não paga nem um sanduíche. Nem em boteco sujismundo, daqueles com apenas 2 fatias transparentes de presunto.

Gosto de livros de arte, e casualmente me faltava algo sobre o panorama geral da pintura americana. E não é que achei este, por apenas €9,90? (Seu preço real seria de 40 a 50 euros). São 300 páginas ilustradas com obras de 25 pintores mais expressivos do país, que vão da fase da descoberta do oeste, passando por impressionismo, realismo, vanguarda, expressionismo, pop-art e grafite.

Sou imensamente grata a esta livraria.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Batatas ao Congresso!

Inadimplência e endividamento de 55% em São Paulo; gastanças no Congresso; crimes se quadruplicando; desemprego oceânico no mundo e mafiosos infiltrando na construção do pós-terremoto. Não dá. Não dá para continuar a ler os jornais. O inferno começa com uma taça de café, todas as manhãs.

Hoje fui fazer compras no supermercado e encontrei batatas-doce à venda. Vem da África, sem precisar de que país. Basta que seja um negro, e o povo aquí o chama de africano. Os africanos não têm uma feição nacional. Apenas continental. Negro brasileiro, sudanês ou chadiano é tudo africano.

A propósito, paguei quase 3 euros por estas duas batatas. É o preço das barreiras comerciais da União Européia, para defender os agricultores locais com ricos subsídios. Deve ter entrado apenas 0,03 centavo no bolso do produtor africano. E já é muito.

Estas batatas? Pego as e atiro contra o Congresso. E a quem mais vocês sugerem?

segunda-feira, 13 de abril de 2009

A paura dos CEOs


E se a moda dos justiceiros pegar de vez?

Aquí já começou. E os CEOs das grandes corporações que embolsaram bônus milionários que se cuidem mais ainda, porque o ressentimento dos trabalhadores, incubado a longo, já está se transformando em exasperação. E a desforra passou a usar meios mais práticos para pressionar seus dirigentes: assédios, raptos e sequestros-relâmpago.

A começar pela mansão do banqueiro Fred Goodwin, da Royal Bank of Scottland, invadida dias atrás, por uma ronda justiceira anti-manager, que sustenta o slogan "Bank Bosses are Criminals". Daquele mesmo, que deixou o maior buraco na história empresarial britânica e ainda embolsou quase 17 milhões de libras de pensão para sair de cena.

Duas semanas atrás, foi a vez do diretor da Sony France, da filial de Bordeaux, refém dos operários por uma noite, ao anunciar a demissão de 8 mil empregados. Depois, o sequestro-relâmpago do diretor da 3M francesa; do diretor da Caterpillar francesa; diretores da filial belga da Fiat e o que levou a melhor, o diretor da Continental, que recebeu apenas ovos na cara.

Até o bilionário François-Henri Pinalt, do grupo PPR(que detém marcas como Gucci, Fnac, Christie's, Puma, etc), teve seus 60 minutos de pânico. Ficou preso dentro de um táxi, assediado por centenas dos 1.200 demitidos e só foi liberado com a intervenção da Polícia.

* E se os sequestradores brasileiros, "por um lapso", apontassem os olhos também ao Congresso? (Besteirinhas que atravessam a minha cabeça de vez em quando...)

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Lixo



O meu forno a microondas, de uma marca desconhecida, começou a dar sua primeira pifadinha. Pudera, me serviu por 16 anos, quando os eletrodomésticos, de um modo geral, duram em média 10 anos. É o tempo prestabelececido pela indústria de consumo, para que o giro de economia garanta a própria existência.

Vivemos num vórtice de consumismo, no qual o rei Marketing tenta condicionar nossa mente de que temos que trocar o velho pelo novo, a cada novo modelo proposto. Com mais potência, design repaginado e para estar em linha com a contemporaneidade. Ou simplesmente por ostentação. E tudo a uma velocidade estonteante.

Todas as vezes que tenho que adquirir algum produto de uso doméstico, me lembro de um texto - se não me engano, a minha primeira tentativa de tradução de um jornal japonês - o qual se fixou na memória. Então, eu era uma simples bolsista no Japão, em 86, quando a minha consciência pelo ambiente ainda dava seus primeiros passos. Me lembro os números de eletrodomésticos jogados no lixo, apenas na área metropolitana de Tóquio.

A proporção era algo como 400 mil futon; 200 mil geladeiras, 100 mil microondas; 200 mil aquecedores, e assim por diante. Apenas de "lixos" em perfeito estado de funcionamento. Cifras astronômicas, para a equação de um bolso como o meu, então.

Não pretendo trocar o meu forno enquanto não pifar definitivamente. Não me importa se ele tenha um aspecto pouco atraente. Minhas comidinhas não dependem da sua estética.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Subcultura



Leio esta manhã no jornal La Repubblica que a prefeitura de Kyoto decidiu fisicamente tutelar as gueixas, um dos tesouros nacionais do Japão. E com o uso de seguranças e placas com pedidos de respeito para evitar moléstias de turistas estrangeiros, dos quais têm sido vítimas nos últimos anos. Serão os mesmos que depredam esculturas dos museus abertos italianos ou aqueles que insistem em tocar as obras de Louvre com as mãos sujas de sorvete.

Armados de câmeras como paparazzi, os turistas chegam a invadir (sem tirar os sapatos, suponho eu) as exclusivas casas de cerimônia para fotografar os rituais de jantares reservados, quando não as abordam despudoradamente na rua.

O impulso da curiosidade e selvageria dos turistas não há limite, segundo o artigo. Alguns chegam a tocá-las na rua, puxá-las com grosseria pela manga do quimono ou pelos cabelos, para comprovar a autenticidade do refinado penteado (que requer ao menos quatro horas de preparo).

É a subcultura de Hollywood, materializada nestes turistas selvagens.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Abismo


286 mil dólares ao dia. Ao dia. É o que ganha o chefe-executivo da Motorola, Sanjay Jha, no topo da pirâmide dirigente. Ele sozinho totaliza uma renda de 104 milhões de dólares ao ano.

Daquí de baixo, me causa vertigem ao ver esta lista de executivos que mais ganham no mundo. Até quando vai durar este modelo capitalista?

domingo, 5 de abril de 2009

Vai mais uma, doutor!


Ainda que eu seja analfabeta em linguagem médica e possua pouca ou nenhuma habilidade com paciente pós-operatório, estou dando conta do recado. Sigo o "meu" método empírico, através de sensações e observações intuitivas adquiridas nos últimos anos. Em 8 anos, o paciente passou por 5 operações!

Ele já está em casa, sob meus cuidados. Em 2001, foi a vez de cirurgia no menisco e ligamento. Futebol com a turma dos quarentões? Never more. Em 2005, foi a retirada da veia safena inferior da perna esquerda. Caso crônico e hereditário de varizes. Em 2006, a veia safena superior da perna esquerda; em 2007, apendicite aguda com peritonite. Esta semana, a veia safena inferior da perna direita.

Só lhe falta a veia safena superior para ficar sem nenhuma safena, de nenhuma perna! O pessoal do hospital já o conhece pelo nome.

E não é que a nossa gatinha, ao brincar com o paciente esta manhã, lhe tacou as unhas nos pontos frescos, tentando arrancar aqueles fios de costura? Com duas desastradas em casa, ele quer retornar à segurança do hospital.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Que país...

"O Anjo da Dor", escultura de William Wetmore Story (1819-1895)



O Brasil descrito aquí por Dimenstein dói. Como dói...